j2e3
05-04-08, 02:57 PM
Eu sou a videira, meu pai é o lavrador, vós sois as varas:
o processo da poda
Por José Carlos Martins
Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o agricultor.
Todo ramo que, estando em mim, não der fruto, ele o corta; e todo o que dá fruto limpa, para que produza mais fruto ainda (João 15.1,2), disse Jesus ensinando os seus.
Jesus usou esta figura do cultivo da uva para transmitir o tipo de relacionamento por ele pretendido entre ele, nós e o pai. Ainda, assim ensinando, ele ativaria nas mentes dos que o escutavam o processo de analogia entre os cuidados que se deve ter com uma videira para que ela seja produtiva e a vida segundo o evangelho.
Partindo deste pressuposto, surge a pergunta: Como se poda uma videira para que ela seja frutífera ciclo após ciclo de produção – produza mais fruto ainda - qualidade que Jesus aponta ser o que o pai busca na sua videira?
Algumas respostas são dadas a esta pergunta, as quais podem servir de reflexão aos cristãos de coração aberto, sobre qual postura devemos ter, assumir, como servos do Senhor.
Para que se tenha uma boa videira (videira pode ser um ou mais pés de uva) há que se escolher o local ideal, o qual envolve boa recepção de sol, isto é, sol pela manhã e pela tarde. Sol é algo fundamental para uma videira, influi no seu metabolismo.
Para que se tenha uma boa videira, o solo tem de ser bom, mistura de argila e areia é a composição apontada por técnicos, porém se a qualidade do solo não for boa, dá para melhorá-lo; é corrigível por várias técnicas.
Para que se tenha uma boa videira, tem que se escolher uma variedade de uva compatível com a região em que se quer plantá-la. Há variedades que não se adaptam a alguns lugares; aí pode estar ou não o sucesso do cultivo.
Para que se tenha uma boa videira, é necessário que ela seja podada e treinada adequadamente.
Dos quatro itens acima, Jesus se preocupou apenas com um deles, o quarto. Desta forma vamos entender que os outros três requisitos, para se ter uma boa videira, já haviam sido atendidos, especialmente em se tratando de quem é o lavrador da história de Jesus.
Observe-se que duas podas são apresentadas no texto. A que se extirpa o ramo na base, desligando-o totalmente da videira, ele o corta, outra versão diz tira; e a poda com remanescente: limpa.
Antes de adentrarmos no processo da poda de uma videira, gostaria de chamar a atenção para o modo como Jesus se expressou nesses versos. As palavras (verbos) corta ou tira são categóricas bem como a palavra limpa. Elas não manifestam possibilidade, hipótese, probabilidade, mas enfatizam que é isso que acontece, elas têm uma conotação factual. Portando, Deus poda, Deus limpa, independentemente do que se pense, do que se argumente; e a poda é para todos, até os ramos mais sadios, mais perfeitos passarão por ela, porque ela é a manutenção da saúde. A igreja que vai aos céus, nos diz a Palavra, é limpa, imaculada, irrepreensível, traz no seu semblante o reflexo do zelo do grande lavrador (Efésios 5.25).
Outra coisa importante nas palavras de Jesus é que ele não apontou mais ninguém com o poder de cortar, exceto o pai. Só o pai pode cortar, só ele pode definir quem está cortado. Nós não temos esta autoridade. Também só ele pode religar, enxertar, e isso é possível numa videira.
Disto isto, passemos ao processo ou processos da poda. A minha ênfase será na poda para a frutificação que é a poda de aparagem, e não de mera extirpação (ainda que a extirpação também é corte que leva a melhores frutos). Portanto, três são os tipos de poda que quero destacar: a poda de formação, a poda de produção e a poda verde.
A poda de formação é a que é realizada somente após um ano do plantio de um novo pé de uva. Antes de completar um ano, a videira deve crescer para qualquer lado, à vontade, extraindo o máximo da terra, fortificando as raízes.
Há uma lição aqui aos crentes ávidos por críticas àqueles que acabaram de chegar na seara do Senhor.
A poda de produção é a que se faz subseqüentemente a videira começar a dar fruto; é feita na época em que seus ramos já se mostram maduros, prontos, após a colheita da safra.
Esta poda retira o excesso de ramos, partes achatadas, doentes, mal posicionados para o direcionamento (encaminhamento e posicionamento dos ramos) que o viticultor pretende dar a sua videira. Que o lavrador das nossas almas retire de nós tudo o que impede a frutificação da sua presença e ache em nós humildade que lhe permita nos direcionar para as áreas do seu trabalho que melhor lhe convierem.
A poda de produção pode ser feita de forma mista, levando em conta a intercalação de um ramo podado bem curto, chamado de esporão, perto da base do braço da videira, e de um ramo mais longo, também procedendo do braço. Esse tipo de poda permite a renovação da parte aérea da videira, do contrário a produção perderá qualidade rapidamente.
O que é esporão? É ramo que deu fruto no ciclo anterior e precisa se renovar. Dele brotará um novo ramo que no próximo ciclo será ramo longo (vara de produção) novamente.
O texto de Jesus, portanto, nos remete a que não podemos todos querer ocupar a mesma posição ao mesmo tempo no trabalho do Senhor. Há momento para tudo. Cada coisa ao seu tempo e no seu lugar. Na videira do Senhor, há tempo de brotar de novo; basta deixar que ele pode, nos prepare para isso. O problema é que ninguém quer (aparentemente) retroceder, retroceder para crescer, com mais força ainda, em favor da videira, de todos. Há pessoas que só se preocupam com o “seu ministério”. Para eles tudo é ministério; são do ministério, para o ministério, sobre o ministério, com o ministério ... ministério ... ministério ... ministério de si mesmos; e saia da frente quem for interpretado como ameaça. São como ramos que só querem crescer, crescer (roubando força que deve ser direcionada para o fruto).
Videira que não recebe cuidado ganha muito vigor, vigor selvagem, transferindo toda a sua energia para ramos e folhas.
Quem dera fossemos como foi Daniel que soube estar por cima no Reinado de Nabucodonozor e soube estar sumido no reinado de Belsazar, até ser chamado à tona, do aparente esquecimento, para entregar uma palavra de Deus a Belsazar, mostrando o fruto de quem se submete aos quereres de Deus, aos direcionamentos de Deus.
O esporão nos dá esta lição de que não somos um ramo único na videira, os outros, as outras também têm vez e o agricultor assim o quer e fará para que assim seja.
Agora vejamos a poda verde e quais lições espirituais ela nos traz. Esta poda normalmente ocorre no verão. Na poda verde procede-se a desbrota, a desponta, a desfolha, a retirada de gavinhas e netos, eliminação e ou desbaste de cachos, torção de ramos, entre outros procedimentos técnicos.
Vejamos cada um dos procedimentos da poda verde mencionados acima:
Na desbrota, elimina-se o excesso de brotos, os quais (chamados de ladrões) impedem o bom fluxo e direcionamento da seiva. Espiritualmente, quanta coisa quer brotar de nós que impede o fluir de Deus nas nossas vidas. São manifestações de tristeza com o próximo, vaidades pessoais de ser, individualismo, interesse próprio, disputas hierárquicas... São brotos que se o lavrador não podar, virarão ramos e ocuparão espaço não pertinente a eles, atrapalhando a qualidade do fruto.
Na desponta, remove-se a extremidade dos brotos, favorecendo o aparecimento das gemas (botões de onde procedem os cachos). Este procedimento ajuda a equilibrar a vegetação (grande consumidora de seiva) incrementando o peso e qualidade do fruto.
Outro benefício trazido pela desponta, é a melhor circulação de ar e melhor chegada dos raios solares ao interior da vinha, o que evita problemas de saúde à planta.
Ele é o sol da justiça que quer ter lugar em nossas vidas, e bem no interior da nossa alma, para que a saúde da sua comunhão apareça em nós pelo que externamos – o nosso fruto.
Na desfolha, removem-se as “folhas que encobrem os cachos, eliminando-se no máximo uma a duas folhas por broto, com o objetivo de equilibrar a relação área foliar/número de frutos melhorando a ventilação e insolação no interior do vinhedo, obtendo-se uma maior eficiência no controle de doenças fúngicas, especialmente em parreirais vigorosas. Essa operação deve ser realizada com muito cuidado, pois uma desfolha exagerada poderá trazer muitos prejuízos, pela menor acumulação de açúcares nos frutos e maturação incompleta dos ramos, bem como, a ocorrência de escaldaduras ou “golpes de sol” nas bagas” (texto da EMBRAPA).
A desfolha nos fala de equilíbrio folha-fruto. Nos fala que a aparência na videira do Senhor tem sua importância quando proporcional ao fruto e a favor do fruto . A aparência tem de dar lugar (não pode tomar conta) para que a vida apareça e seja aperfeiçoada, agraciada (‘a ventilação no interior do vinhedo’) pelo bom vento do Espírito Santo e a luz do Sol da Justiça e seus efeitos. Alguns vêem legalismo em tudo, porém uma dosagem moderada de recato, ao meu ver, é indispensável ao bom testemunho. Quando houver folha a mais ou a menos, trazendo desvantagem para o fruto, ele quererá nos corrigir; que ele possa fazê-lo.
Retirada de gavinhas e netos. As gavinhas são filamentos (comuns nas plantas sarmentosas), os quais se enrolam em que encontram pela frente, são responsáveis pela fixação das varas; são parte das varas. Os netos são “brotações secundárias que surgem das axilas das folhas. Essas brotações funcionam como "ladrões" da seiva, impedindo o crescimento adequado das brotações e dos cachos, provocam, também, o sombreamento excessivo”(texto da EMBRAPA).
O que falar das gavinhas? Quando não tiradas, vão sufocando a videira, estrangulando folhas; devem ser mantidas apenas e quando necessárias à fixação de algum ramo, senão roubarão seiva e enfraquecerão a videira.
As gavinhas lembram aquelas pessoas que têm por característica avançar sem medir as conseqüências, se estão prejudicando ou não aos que estão a sua volta; que querem mais e mais, que justificam os meios pelo fim. Acabe, Geazi eram crentes do Velho Testamento deste tipo. Deus limpa as varas para que dêem mais fruto, essa característica possessiva de gavinha não encontra lugar na vinha do Senhor.
Quanto aos netos, chamados de ladrões da seiva, são ramificações supérfluas que surgem nas varas, impedindo a luz do sol de chegar com mais freqüência e com a intensidade necessária. Ao longo da vida espiritual, vamos criando nossas próprias teologias para nos defendermos e mantermos os vícios espirituais que desenvolvemos com o tempo: mentirinhas, cacoetes evangélicos (dizeres, determinações sem fundamento), auto-defesas (segurança no nome de cristão); são vícios que nos tornam identificáveis com um grupo apenas, mas que ao mesmo tempo revelam a nossa falta de compreensão e vida do evangelho. Deus quer limpar essas brotações que muito pouco tem da Verdade e que muito mais tem a ver com religiosidade.
A eliminação e ou desbaste de cachos tem como objetivo “equilibrar a produtividade, evitando-se sobrecarga, promovendo a obtenção de cachos mais uniformes e de melhor qualidade” (texto da EMBRAPA). Alguns cachos aparecem antes do tempo sem a formação adequada; outros surgem depois da quantidade de fruto pretendida pelo agricultor para vinha (e por ela suportada) já ter se desenvolvido. Isso causa desequilíbrio da qualidade e deve ser tratado. Também são eliminados cachos que se atrasaram no desenvolvimento quando comparados aos outros.
É de nós, varas da videira, crentes, que os frutos procedem; mas às vezes não apresentamos o que o Senhor de nós espera, não fazemos o nosso melhor, o amor não está presente, a sinceridade é escassa e o valor do nosso fruto se perde. Cada videira possui potencial para dar uma certa quantidade de fruto com qualidade. A quantidade não pode ser a mais e a qualidade não pode ser a menos; desta forma, a quantidade se justifica se houver qualidade; é a qualidade que deve determinar a quantidade. O Vinho que Jesus providenciou no casamento em Caná da Galiléia era de qualidade, ele não entregou algo parecido com o que os convidados haviam bebido antes, vinho de má qualidade; se aquele vinho saiu de alguma videira real, sem dúvida era uma videira de qualidade. Isso nos ensina que ele se preocupa com qualidade.
Há igrejas que querem ter o mesmo crescimento de ministérios que “explodiram” no crescimento e passam a imitá-los e acabam se perdendo no rumo (isso vale para cada um de nós individualmente também), produzindo fruto de invencionice, de marketing, menos do evangelho. O crescimento é válido e autêntico quando nele há o equilíbrio entre qualidade e quantidade, é o que a videira de Jesus nos faz compreender.
Aqui há que se perguntar: qual é a marca da qualidade do bom fruto, de que fibras ele se constitui, espiritualmente falando? Vamos ficar com uma marca e constituição: verdade. O que não procede da verdade, pode ser de interesse dos homens, pode proceder dos homens, porém de Deus não. Há muitos correndo atrás de crescimento que compromete a qualidade e autenticidade do fruto; é um fruto de constituição estranha.
A torção de ramos é uma técnica que visa tirar a videira da dormência (fase entre-ciclo de vegetação) após a poda de inverno, quando a vegetação surge irregular, se atrasa ou quando apenas o viticultor pretende antecipá-la. Quantos de nós não estamos precisando que o Senhor nos desperte para um ressurgimento que traga como conseqüência o bom fruto.
Poderia dizer muito mais sobre processo de poda que visa uma videira frutífera, porém tudo o que dissesse a mais, apenas reforçaria que Jesus (segundo entendo), ao ensinar através da figura da poda da videira, nós mostra que a igreja de Deus é uma igreja livre de impedimento (Ele anda por ela sem obstáculos no curso), é arejada e transparente (com entradas e saídas para luz e ar, pondo à vista de todos o que ela é, o que ela tem, ela produz), onde a camuflagem dos interesses denominacionais, ministeriais, financeiros, de dominação, seja lá quais forem, não tem espaço; pode até ter espaço naquilo que tentaram transformar a sua igreja, mas na igreja que vai para o céu, não.
Ainda, para concluir, quando se poda, verte seiva no topo da amputação, tomando um certo tempo para que a seiva estanque; ninguém gosta de ser podado, cortado, corrigido, questionado, dói; o ser humano gosta de ficar em situação de conforto; porém Deus vê a sua igreja como uma unidade, que tem objetivos comuns, e como unidade dela Ele cuida e a conduz na sua vontade. Mesmo que o ramo esteja sadio, ele vai ser podado ao seu tempo. A poda é a manutenção da saúde tanto do ramo como do todo, a videira.
Jesus sendo a videira, se entregou à poda para que nós pudéssemos frutificar.
Textos de conclusão:
Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o agricultor.
Todo ramo que, estando em mim, não der fruto, ele o corta; e todo o que dá fruto limpa, para que produza mais fruto ainda (João 15.1,2).
Hebreus 12:11 Toda disciplina, com efeito, no momento não parece ser motivo de alegria, mas de tristeza; ao depois, entretanto, produz fruto pacífico aos que têm sido por ela exercitados, fruto de justiça.
Romanos 8:28 E sabemos que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados por seu decreto.
Vamos pensar nisto!
o processo da poda
Por José Carlos Martins
Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o agricultor.
Todo ramo que, estando em mim, não der fruto, ele o corta; e todo o que dá fruto limpa, para que produza mais fruto ainda (João 15.1,2), disse Jesus ensinando os seus.
Jesus usou esta figura do cultivo da uva para transmitir o tipo de relacionamento por ele pretendido entre ele, nós e o pai. Ainda, assim ensinando, ele ativaria nas mentes dos que o escutavam o processo de analogia entre os cuidados que se deve ter com uma videira para que ela seja produtiva e a vida segundo o evangelho.
Partindo deste pressuposto, surge a pergunta: Como se poda uma videira para que ela seja frutífera ciclo após ciclo de produção – produza mais fruto ainda - qualidade que Jesus aponta ser o que o pai busca na sua videira?
Algumas respostas são dadas a esta pergunta, as quais podem servir de reflexão aos cristãos de coração aberto, sobre qual postura devemos ter, assumir, como servos do Senhor.
Para que se tenha uma boa videira (videira pode ser um ou mais pés de uva) há que se escolher o local ideal, o qual envolve boa recepção de sol, isto é, sol pela manhã e pela tarde. Sol é algo fundamental para uma videira, influi no seu metabolismo.
Para que se tenha uma boa videira, o solo tem de ser bom, mistura de argila e areia é a composição apontada por técnicos, porém se a qualidade do solo não for boa, dá para melhorá-lo; é corrigível por várias técnicas.
Para que se tenha uma boa videira, tem que se escolher uma variedade de uva compatível com a região em que se quer plantá-la. Há variedades que não se adaptam a alguns lugares; aí pode estar ou não o sucesso do cultivo.
Para que se tenha uma boa videira, é necessário que ela seja podada e treinada adequadamente.
Dos quatro itens acima, Jesus se preocupou apenas com um deles, o quarto. Desta forma vamos entender que os outros três requisitos, para se ter uma boa videira, já haviam sido atendidos, especialmente em se tratando de quem é o lavrador da história de Jesus.
Observe-se que duas podas são apresentadas no texto. A que se extirpa o ramo na base, desligando-o totalmente da videira, ele o corta, outra versão diz tira; e a poda com remanescente: limpa.
Antes de adentrarmos no processo da poda de uma videira, gostaria de chamar a atenção para o modo como Jesus se expressou nesses versos. As palavras (verbos) corta ou tira são categóricas bem como a palavra limpa. Elas não manifestam possibilidade, hipótese, probabilidade, mas enfatizam que é isso que acontece, elas têm uma conotação factual. Portando, Deus poda, Deus limpa, independentemente do que se pense, do que se argumente; e a poda é para todos, até os ramos mais sadios, mais perfeitos passarão por ela, porque ela é a manutenção da saúde. A igreja que vai aos céus, nos diz a Palavra, é limpa, imaculada, irrepreensível, traz no seu semblante o reflexo do zelo do grande lavrador (Efésios 5.25).
Outra coisa importante nas palavras de Jesus é que ele não apontou mais ninguém com o poder de cortar, exceto o pai. Só o pai pode cortar, só ele pode definir quem está cortado. Nós não temos esta autoridade. Também só ele pode religar, enxertar, e isso é possível numa videira.
Disto isto, passemos ao processo ou processos da poda. A minha ênfase será na poda para a frutificação que é a poda de aparagem, e não de mera extirpação (ainda que a extirpação também é corte que leva a melhores frutos). Portanto, três são os tipos de poda que quero destacar: a poda de formação, a poda de produção e a poda verde.
A poda de formação é a que é realizada somente após um ano do plantio de um novo pé de uva. Antes de completar um ano, a videira deve crescer para qualquer lado, à vontade, extraindo o máximo da terra, fortificando as raízes.
Há uma lição aqui aos crentes ávidos por críticas àqueles que acabaram de chegar na seara do Senhor.
A poda de produção é a que se faz subseqüentemente a videira começar a dar fruto; é feita na época em que seus ramos já se mostram maduros, prontos, após a colheita da safra.
Esta poda retira o excesso de ramos, partes achatadas, doentes, mal posicionados para o direcionamento (encaminhamento e posicionamento dos ramos) que o viticultor pretende dar a sua videira. Que o lavrador das nossas almas retire de nós tudo o que impede a frutificação da sua presença e ache em nós humildade que lhe permita nos direcionar para as áreas do seu trabalho que melhor lhe convierem.
A poda de produção pode ser feita de forma mista, levando em conta a intercalação de um ramo podado bem curto, chamado de esporão, perto da base do braço da videira, e de um ramo mais longo, também procedendo do braço. Esse tipo de poda permite a renovação da parte aérea da videira, do contrário a produção perderá qualidade rapidamente.
O que é esporão? É ramo que deu fruto no ciclo anterior e precisa se renovar. Dele brotará um novo ramo que no próximo ciclo será ramo longo (vara de produção) novamente.
O texto de Jesus, portanto, nos remete a que não podemos todos querer ocupar a mesma posição ao mesmo tempo no trabalho do Senhor. Há momento para tudo. Cada coisa ao seu tempo e no seu lugar. Na videira do Senhor, há tempo de brotar de novo; basta deixar que ele pode, nos prepare para isso. O problema é que ninguém quer (aparentemente) retroceder, retroceder para crescer, com mais força ainda, em favor da videira, de todos. Há pessoas que só se preocupam com o “seu ministério”. Para eles tudo é ministério; são do ministério, para o ministério, sobre o ministério, com o ministério ... ministério ... ministério ... ministério de si mesmos; e saia da frente quem for interpretado como ameaça. São como ramos que só querem crescer, crescer (roubando força que deve ser direcionada para o fruto).
Videira que não recebe cuidado ganha muito vigor, vigor selvagem, transferindo toda a sua energia para ramos e folhas.
Quem dera fossemos como foi Daniel que soube estar por cima no Reinado de Nabucodonozor e soube estar sumido no reinado de Belsazar, até ser chamado à tona, do aparente esquecimento, para entregar uma palavra de Deus a Belsazar, mostrando o fruto de quem se submete aos quereres de Deus, aos direcionamentos de Deus.
O esporão nos dá esta lição de que não somos um ramo único na videira, os outros, as outras também têm vez e o agricultor assim o quer e fará para que assim seja.
Agora vejamos a poda verde e quais lições espirituais ela nos traz. Esta poda normalmente ocorre no verão. Na poda verde procede-se a desbrota, a desponta, a desfolha, a retirada de gavinhas e netos, eliminação e ou desbaste de cachos, torção de ramos, entre outros procedimentos técnicos.
Vejamos cada um dos procedimentos da poda verde mencionados acima:
Na desbrota, elimina-se o excesso de brotos, os quais (chamados de ladrões) impedem o bom fluxo e direcionamento da seiva. Espiritualmente, quanta coisa quer brotar de nós que impede o fluir de Deus nas nossas vidas. São manifestações de tristeza com o próximo, vaidades pessoais de ser, individualismo, interesse próprio, disputas hierárquicas... São brotos que se o lavrador não podar, virarão ramos e ocuparão espaço não pertinente a eles, atrapalhando a qualidade do fruto.
Na desponta, remove-se a extremidade dos brotos, favorecendo o aparecimento das gemas (botões de onde procedem os cachos). Este procedimento ajuda a equilibrar a vegetação (grande consumidora de seiva) incrementando o peso e qualidade do fruto.
Outro benefício trazido pela desponta, é a melhor circulação de ar e melhor chegada dos raios solares ao interior da vinha, o que evita problemas de saúde à planta.
Ele é o sol da justiça que quer ter lugar em nossas vidas, e bem no interior da nossa alma, para que a saúde da sua comunhão apareça em nós pelo que externamos – o nosso fruto.
Na desfolha, removem-se as “folhas que encobrem os cachos, eliminando-se no máximo uma a duas folhas por broto, com o objetivo de equilibrar a relação área foliar/número de frutos melhorando a ventilação e insolação no interior do vinhedo, obtendo-se uma maior eficiência no controle de doenças fúngicas, especialmente em parreirais vigorosas. Essa operação deve ser realizada com muito cuidado, pois uma desfolha exagerada poderá trazer muitos prejuízos, pela menor acumulação de açúcares nos frutos e maturação incompleta dos ramos, bem como, a ocorrência de escaldaduras ou “golpes de sol” nas bagas” (texto da EMBRAPA).
A desfolha nos fala de equilíbrio folha-fruto. Nos fala que a aparência na videira do Senhor tem sua importância quando proporcional ao fruto e a favor do fruto . A aparência tem de dar lugar (não pode tomar conta) para que a vida apareça e seja aperfeiçoada, agraciada (‘a ventilação no interior do vinhedo’) pelo bom vento do Espírito Santo e a luz do Sol da Justiça e seus efeitos. Alguns vêem legalismo em tudo, porém uma dosagem moderada de recato, ao meu ver, é indispensável ao bom testemunho. Quando houver folha a mais ou a menos, trazendo desvantagem para o fruto, ele quererá nos corrigir; que ele possa fazê-lo.
Retirada de gavinhas e netos. As gavinhas são filamentos (comuns nas plantas sarmentosas), os quais se enrolam em que encontram pela frente, são responsáveis pela fixação das varas; são parte das varas. Os netos são “brotações secundárias que surgem das axilas das folhas. Essas brotações funcionam como "ladrões" da seiva, impedindo o crescimento adequado das brotações e dos cachos, provocam, também, o sombreamento excessivo”(texto da EMBRAPA).
O que falar das gavinhas? Quando não tiradas, vão sufocando a videira, estrangulando folhas; devem ser mantidas apenas e quando necessárias à fixação de algum ramo, senão roubarão seiva e enfraquecerão a videira.
As gavinhas lembram aquelas pessoas que têm por característica avançar sem medir as conseqüências, se estão prejudicando ou não aos que estão a sua volta; que querem mais e mais, que justificam os meios pelo fim. Acabe, Geazi eram crentes do Velho Testamento deste tipo. Deus limpa as varas para que dêem mais fruto, essa característica possessiva de gavinha não encontra lugar na vinha do Senhor.
Quanto aos netos, chamados de ladrões da seiva, são ramificações supérfluas que surgem nas varas, impedindo a luz do sol de chegar com mais freqüência e com a intensidade necessária. Ao longo da vida espiritual, vamos criando nossas próprias teologias para nos defendermos e mantermos os vícios espirituais que desenvolvemos com o tempo: mentirinhas, cacoetes evangélicos (dizeres, determinações sem fundamento), auto-defesas (segurança no nome de cristão); são vícios que nos tornam identificáveis com um grupo apenas, mas que ao mesmo tempo revelam a nossa falta de compreensão e vida do evangelho. Deus quer limpar essas brotações que muito pouco tem da Verdade e que muito mais tem a ver com religiosidade.
A eliminação e ou desbaste de cachos tem como objetivo “equilibrar a produtividade, evitando-se sobrecarga, promovendo a obtenção de cachos mais uniformes e de melhor qualidade” (texto da EMBRAPA). Alguns cachos aparecem antes do tempo sem a formação adequada; outros surgem depois da quantidade de fruto pretendida pelo agricultor para vinha (e por ela suportada) já ter se desenvolvido. Isso causa desequilíbrio da qualidade e deve ser tratado. Também são eliminados cachos que se atrasaram no desenvolvimento quando comparados aos outros.
É de nós, varas da videira, crentes, que os frutos procedem; mas às vezes não apresentamos o que o Senhor de nós espera, não fazemos o nosso melhor, o amor não está presente, a sinceridade é escassa e o valor do nosso fruto se perde. Cada videira possui potencial para dar uma certa quantidade de fruto com qualidade. A quantidade não pode ser a mais e a qualidade não pode ser a menos; desta forma, a quantidade se justifica se houver qualidade; é a qualidade que deve determinar a quantidade. O Vinho que Jesus providenciou no casamento em Caná da Galiléia era de qualidade, ele não entregou algo parecido com o que os convidados haviam bebido antes, vinho de má qualidade; se aquele vinho saiu de alguma videira real, sem dúvida era uma videira de qualidade. Isso nos ensina que ele se preocupa com qualidade.
Há igrejas que querem ter o mesmo crescimento de ministérios que “explodiram” no crescimento e passam a imitá-los e acabam se perdendo no rumo (isso vale para cada um de nós individualmente também), produzindo fruto de invencionice, de marketing, menos do evangelho. O crescimento é válido e autêntico quando nele há o equilíbrio entre qualidade e quantidade, é o que a videira de Jesus nos faz compreender.
Aqui há que se perguntar: qual é a marca da qualidade do bom fruto, de que fibras ele se constitui, espiritualmente falando? Vamos ficar com uma marca e constituição: verdade. O que não procede da verdade, pode ser de interesse dos homens, pode proceder dos homens, porém de Deus não. Há muitos correndo atrás de crescimento que compromete a qualidade e autenticidade do fruto; é um fruto de constituição estranha.
A torção de ramos é uma técnica que visa tirar a videira da dormência (fase entre-ciclo de vegetação) após a poda de inverno, quando a vegetação surge irregular, se atrasa ou quando apenas o viticultor pretende antecipá-la. Quantos de nós não estamos precisando que o Senhor nos desperte para um ressurgimento que traga como conseqüência o bom fruto.
Poderia dizer muito mais sobre processo de poda que visa uma videira frutífera, porém tudo o que dissesse a mais, apenas reforçaria que Jesus (segundo entendo), ao ensinar através da figura da poda da videira, nós mostra que a igreja de Deus é uma igreja livre de impedimento (Ele anda por ela sem obstáculos no curso), é arejada e transparente (com entradas e saídas para luz e ar, pondo à vista de todos o que ela é, o que ela tem, ela produz), onde a camuflagem dos interesses denominacionais, ministeriais, financeiros, de dominação, seja lá quais forem, não tem espaço; pode até ter espaço naquilo que tentaram transformar a sua igreja, mas na igreja que vai para o céu, não.
Ainda, para concluir, quando se poda, verte seiva no topo da amputação, tomando um certo tempo para que a seiva estanque; ninguém gosta de ser podado, cortado, corrigido, questionado, dói; o ser humano gosta de ficar em situação de conforto; porém Deus vê a sua igreja como uma unidade, que tem objetivos comuns, e como unidade dela Ele cuida e a conduz na sua vontade. Mesmo que o ramo esteja sadio, ele vai ser podado ao seu tempo. A poda é a manutenção da saúde tanto do ramo como do todo, a videira.
Jesus sendo a videira, se entregou à poda para que nós pudéssemos frutificar.
Textos de conclusão:
Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o agricultor.
Todo ramo que, estando em mim, não der fruto, ele o corta; e todo o que dá fruto limpa, para que produza mais fruto ainda (João 15.1,2).
Hebreus 12:11 Toda disciplina, com efeito, no momento não parece ser motivo de alegria, mas de tristeza; ao depois, entretanto, produz fruto pacífico aos que têm sido por ela exercitados, fruto de justiça.
Romanos 8:28 E sabemos que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados por seu decreto.
Vamos pensar nisto!