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Roberto
24-10-07, 02:56 PM
Cabral defende aborto contra violência no Rio de Janeiro

Governador do Rio evoca livro de americanos que defendem a tese.
"Interrupção da gravidez tem tudo a ver com a violência pública", afirma.

O governador Sérgio Cabral Filho (PMDB), 44 anos, propõe a legalização do aborto como forma de conter a violência no Rio de Janeiro.

Em entrevista ao G1 na última segunda (22), ele se valeu das teses dos autores de "Freakonomics", livro dos norte-americanos Steven Levitt e Stephen J. Dubner, que estabelece relação entre a legalização do aborto e a redução da violência nos EUA.

"Tem tudo a ver com violência. Você pega o número de filhos por mãe na Lagoa Rodrigo de Freitas, Tijuca, Méier e Copacabana, é padrão sueco. Agora, pega na Rocinha. É padrão Zâmbia, Gabão. Isso é uma fábrica de produzir marginal", declarou.

Para o governador, os confrontos com criminosos nas favelas do Rio só vão terminar "quando a ordem pública puder chegar através de várias maneiras, dentre elas com o policial podendo andar fardado em qualquer lugar".

"Enquanto isso não for realidade, continuará havendo confronto. Isso gera morte", declarou Cabral, na 16ª entrevista da série com governadores no G1. Confira abaixo os principais trechos.

Plano Plurianual
G1 - O sr. encaminhou à Assembléia Legislativa o Plano Plurianual, criando metas para várias áreas, entre as quais segurança. Como o senhor pretende reduzir em 15% os crimes contra a vida e os delitos contra o patrimônio, até 2010?
Sérgio Cabral - Eu gostaria de separar primeiro o que é o numero de homicídios numa política de confronto. Uma coisa é o homicídio do cidadão que tem sua casa assaltada e em seguida é assassinado. Roubo seguido de homicídio, latrocínio, isso é um tipo de crime. Outra coisa e entrar na favela da Coréia recebido a tiros. E, na troca de tiros, ter 12 mortos. Isso é uma outra natureza de homicídio. Quando vai acabar a política de confronto? Vai acabar quando a ordem pública puder chegar através de várias maneiras, dentre elas com o policial podendo andar fardado em qualquer lugar. Não é o que acontece hoje. Enquanto isso não for realidade, continuará havendo confronto. Isso gera morte. No momento que você tem marginalidade altamente armada com fuzis, metralhadoras, granadas, você tem um confronto. Metas são metas para alcançarmos.

G1 – Mas as últimas operações de confronto com traficantes nas favelas, que tem levado a muitas mortes, foram criticadas, principalmente por entidades de defesa dos direitos humanos e pela OAB.
Cabral - Eu tenho maior respeito pela OAB. [Mas] Essas comunidades sofrem muito mais do que eu e o representante da Ordem diariamente com isso. Na hora que a gente vai pra uma comunidade e é recebido a tiros, o que essas instituições querem que o governo faça? Se acomode? Na Coréia, não havia uma operação policial há três anos e meio desse tipo, com 350 policiais. Marginais estavam indo para a pista sem aquele temor de ir apenas na madrugada. Iam de dia, parando os carros, com fuzil, mandando parar, matando as pessoas. O estado não pode aceitar isso. Essa é uma questão que não é ideológica. Não adianta me chamar de truculento. Ordem publica está dentro dos valores democráticos.

Milícias
G1 – Mas a população não está a mercê apenas do tráfico. Quando não é o tráfico, são as milícias.

Cabral - O fenômeno da milícia é a ausência de uma política de segurança pública de combate nessas comunidades. É o que gerou a figura das milícias: 'Já que o Estado não vem aqui, vamos criar uma patota para combater esses marginais'. Nós estamos combatendo milícia e tráfico.

G1 – A demora para resgatar a ordem pública pode interferir na implantação dos projetos e investimentos do PAC da Segurança nessas comunidades?
Cabral - De jeito nenhum. Vamos fazer a implantação do Plano de Aceleração do Crescimento nessas favelas porque os moradores estão esperando isso. Nunca vimos tanto investimento quanto teremos do presidente Lula. Em dezembro vamos começar as obras no Alemão, Manguinhos, Rocinha e Pavão-Pavãozinho. Estamos atendendo a 600 mil moradores, revolucionando essas comunidades, pavimentando ruas, avenidas, e construindo escolas. E não vamos permitir que nenhum marginal atrapalhe nosso cronograma.

Legalização das drogas
G1 - O sr. foi o primeiro governador que apareceu defendendo a legalização das drogas. Não acha que para se alcançar isso tem de haver uma mudança de atuação da polícia, um salto de qualidade?
Cabral - Isso é um tema internacional. Legalização das drogas é um tema que defendo. E deve ser discutido profundamente nos foros internacionais. A ONU (Organização das Nações Unidas) tem que levar isso a sério. Vou receber na semana que vem a Karen Tandy, diretora do DEA (U.S. Drug Enforcement Administration, a agência norte-americana de combate ao tráfico). Vou dizer para ela que o governo americano tem que entrar nesse debate.

G1 – Essa não é uma briga feia?
Cabral - Não adianta fazer trabalho só de conscientização. Esse trabalho de saúde não é suficiente. Se fosse legalizada seria até mais fácil identificar esses usuários porque as pessoas não se sentiriam criminosas e sairiam do casulo. Você teria uma política pública mais ampla de atendimento aos drogados. Você teria a venda controlada pelas autoridades. Faria controle de demanda. Então, não consigo entender. Que a droga destrói, é obvio. Como cigarro mata. Tive que tomar remédio para parar de fumar. É uma droga, entra na sua veia, vai te consumindo. Quem nunca teve um caso de um amigo alcoólatra que tenha sofrido por isso? Droga é a mesma coisa. Ninguém quer isso. Mas acho que é uma política de enxugar gelo porque não pára o consumo.

Aborto
G1 – Mas o Brasil não consegue dar conta do mosquito da dengue. Teremos condições de resolver essa questão das drogas?
Cabral - O Brasil não dá conta do câncer. Não dá conta dos que necessitam de CTIs. Não dá conta de um monte de coisas. Se for partir para isso... São duas questões que têm a ver com violência: uma é a questão das drogas que é mais internacional. O Brasil deve contribuir. A outra, é um tema que, infelizmente, não se tem coragem de discutir. É o aborto. A questão da interrupção da gravidez tem tudo a ver com a violência pública. Quem diz isso não sou eu, são os autores do livro "Freakonomics" (Steven Levitt e Stephen J. Dubner). Eles mostram que a redução da violência nos EUA na década de 90 está intrinsecamente ligada à legalização do aborto em 1975 pela suprema corte americana. Porque uma filha da classe média se quiser interromper a gravidez tem dinheiro e estrutura familiar, todo mundo sabe onde fica. Não sei por que não é fechado. Leva na Barra da Tijuca, não sei onde. Agora, a filha do favelado vai levar para onde, se o Miguel Couto não atende? Se o Rocha Faria não atende? Aí, tenta desesperadamente uma interrupção, o que provoca situação gravíssima. Sou favorável ao direito da mulher de interromper uma gravidez indesejada. Sou cristão, católico, mas que visão é essa? Esses atrasos são muito graves. Não vejo a classe política discutir isso. Fico muito aflito. Tem tudo a ver com violência. Você pega o número de filhos por mãe na Lagoa Rodrigo de Freitas, Tijuca, Méier e Copacabana, é padrão sueco. Agora, pega na Rocinha. É padrão Zâmbia, Gabão. Isso é uma fábrica de produzir marginal. Estado não dá conta. Não tem oferta da rede pública para que essas meninas possam interromper a gravidez. Isso é uma maluquice só.

CPMF
G1 - O governo federal tem dificuldades para aprovar a prorrogação da CPMF. Como o sr. está articulando sua base?
Cabral - Os três senadores do Rio vão votar com a CPMF: Crivela, Paulo Duque e Dorneles. Não porque eu tenha pedido. Eles têm consciência de que isso é um gesto responsável. Sangramos para chegar neste momento. O presidente Lula fez das tripas coração para chegar até aqui. O Brasil cresce 5% no PIB. Os juros estão num processo de queda. O conselho monetário [Copom - Comitê de Política Monetária], com muita responsabilidade, interrompeu o processo de queda em função da CPMF. Porque, se perde CPMF, os juros vão ter que subir outra vez. Vai ter que haver encolhimento da economia. Mais grave são os que eram do governo e defendiam, e agora, que estão na oposição, são contra. Aí é demais. Acho que não tem cabimento.

Caso Renan
G1 - O sr., com a experiência de senador, acha que alguém dentro do seu partido pode restabelecer o consenso no Senado com a saída de Renan Calheiros?
Cabral - A gente deve guardar o devido respeito com as instituições. Temos uma instituição com 81 homens. Na sua maioria, mulheres e homens experientes, com passados políticos. Então, eles vão encontrar uma solução. Mas não faltam no PMDB nomes para solucionar esse tema. Acho que vão encontrar isso.

PMDB
G1- Como o sr. está contornando a celeuma provocada pela entrada do secretário de Esporte, Turismo e Lazer Eduardo Paes no PMDB?
Cabral - Celeuma porque parece que não querem ganhar eleição. Trouxemos para o PMDB um excepcional quadro da vida pública do Rio de Janeiro. Vereador mais votado, subprefeito duas vezes, deputado federal, trabalhador e pé quente. Trouxemos o Cristo Redentor como uma das maravilhas do mundo. O Pan-americano foi um sucesso. Acabou de abrigar o jogo do Brasil que foi show para o mundo inteiro. Esse é um assunto que vou tratar com mais calma no ano que vem. Mas estou muito feliz de tê-lo no PMDB.

Sucessão
G1 - O presidente já disse que quer, para sucedê-lo, um candidato da base aliada, não necessariamente do PT. O sr. se considera um nome para o futuro?
Cabral - Tenho que cuidar desta loja aqui. Esta loja aqui é muito complicada. Se você pensar num passo seguinte, sem cuidar da loja... A única presidência que penso é a do Vasco da Gama. Não agüento mais ver meu clube perder. São muitas tristezas. Chegamos a estar no quarto lugar. Como pode cair do quarto pra 11º? É uma vergonha.

Fonte: Portal G1.com