Valmir Nascimento
06-05-05, 09:42 AM
DISCIPULOS DE PÉS SUJOS
Por Valmir Nascimento Milomem Santos
Max Gehringer , executivo e palestrante internacional, em artigo publicado na Revista Você/SA, conta que em 1990 viajava pelo mundo implantando sistemas de controle de produção. Determinado dia, ele e seu colega de trabalho, um americano chamado Denis, foram parar em Bangkok, na Tailândia, onde a empresa havia acabado de adquirir uma fábrica de alimentos.
Eficientes que eram, resolveram tomar um tuk-tuk – um folclórico táxi tailandês de três rodas – e ir direto do aeroporto para a fábrica, para um inventário prévio de necessidades. Nenhum deles havia visitado a Tailândia antes e até esperavam deparar com situações pouco usuais, mas o que viram superou suas piores expectativas. Ao entrarem na área de fabricação, notaram de imediato que os trabalhadores não trajavam uniformes. Estavam todos de bermudas. E, o que era mais chocante, descalços!
Horrorizados com tamanha desconsideração dos ex-gestores da empresa para com os colaboradores, Max e Denis concordaram que a vistoria dos equipamentos e das instalações poderia ficar para depois. Primeiro, e urgentemente, era dever deles resolver o problema daquela gente humilde, trabalhando ali, certamente tristonha e desmotivada, com os pés no chão.
Segundo Gehringer: “Os funcionários devem ter percebido a nossa intenção, porque começaram a olhar insistentemente para nossos sapatos, como se eles fossem alguma maravilha tecnológica. Finalmente, naquela ânsia natural de tentarmos ser entendidos – ninguém ali na produção falava nossas línguas, e, óbvio, nós não falávamos tailandês – resolvemos estabelecer um diálogo através de gestos. Apontamos para nossos sapatos e para os pés nus dos funcionários, e fomos imediatamente correspondidos: eles acenaram positivamente com a cabeça enquanto diziam algo em seu idioma – provavelmente “Nós, os humildes, ficamos gratos por tanta consideração!”
Então, tudo resolvido: no dia seguinte, comprariam dois pares de sapatos para cada funcionário. Só com isso, teriam a certeza que conquistariam a confiança e a admiração daquela gente. Max e Denis imaginaram fazer da entrega dos sapatos uma grande festa motivacional e, enquanto discutiam os detalhes dela, ocorreu algo que vem ocorrendo em Bangkok já faz alguns milênios: a maré subiu e uma lâmina de água de 15cm cobriu o chão da fábrica. Tão rapidamente que ninguém teve tempo para correr.
Max assim comentou a cena: “Nossos sapatos ficaram arruinados e os tailandeses, convenientemente descalços, continuaram a trabalhar normalmente. Uma parte de Bangkok (eu e o Denis não sabíamos nem tivemos a humildade para pesquisar), é entrecortada por canais, cujo nível oscila com as marés. O que os trabalhadores estavam tentando nos dizer não tinha nada a ver com humildade. Era um aviso: “Tirem os sapatos depressa, antes que a água suba!”. Os sapatos deles – e todos eles tinham bons sapatos – estavam guardados e bem protegidos, nos vestiários da fábrica”.
Errando o foco
Max e Denis erraram completamente o foco da humildade. Pensaram estar agindo sob os auspícios da virtude e da empatia, quando na verdade, haviam desvirtuado a realidade. Não observaram corretamente o cenário que os cercava e com isso erraram as suas atitudes.
Assim como Max temos tido uma compreensão equivocada acerca da humildade. Um entendimento superficial da verdadeira virtude registrada nas páginas da Bíblia Sagrada. Nossas mentes medíocres e insensatas permanecem incapazes de assimilá-la. Nossos valores ainda não foram corretamente moldados à luz dos ensinamentos de Cristo.
Continuamos querendo dar “calçados novos” para as outras pessoas ao invés de “andarmos descalços”. Insistimos em dar presentes no lugar de conhecer necessidade. Tencionamos agradar o próximo, sem levar em consideração o cenário que os rodeia. Resultado de uma pseudo-humildade. Uma humildade fraca, sem propósitos e egoísta, revestida de mui bela aparência, porém, desprovida de conteúdo.
Cristo, o verdadeiro padrão de humildade.
Esse cenário leva-nos à busca de uma melhor compreensão acerca da verdadeira e maravilhosa humildade. Aquela que é o objetivo de Deus para a vida de seus filhos, cujo objeto está no próximo e não em si mesmos. Aquela que detêm o sabor do fruto do espírito, o conteúdo que alimenta a alma e exala aromas inefáveis. Aquela que é portadora da simplicidade do evangelho, que é prudente e constante.
Jesus foi e ainda é o melhor modelo de simplicidade. Da sua vida, de seus atos e das suas palavras é possível extrairmos lições e mais lições sobre humildade. Ensinamentos que se reunidos formariam uma biblioteca infindável para o conhecimento e deleite do homem. As lições que aprenderemos com o Filho de Deus não possuem somente grande extensão, mas, sobretudo, profundidade. Ensinamentos que trazem no seu bojo a sustância para alma que é capaz de transformar pensamentos e mudar as condutas.
Lavando os pés sujos dos discípulos
Um dos momentos marcantes da vida de Cristo e prova irrefutável da humildade do Mestre, é, segundo a minha ótica, o momento em que Ele lava os pés dos seus discípulos quando do evento da última ceia. O Deus-homem, já próximo ao término do plano de redenção, à beira do encontro com a cruz, efetua aquele que seria uma das maiores lições para os seus discípulos. Um ato que marcaria profundamente a lembrança dos seus apóstolos.
Após a ceia da Páscoa (João 13), Jesus apanha uma toalha e coloca água dentro da bacia. Imaginemos a surpresa dos discípulos ao verem Jesus se levantar da ceia, tirar o manto, isto no meio da ceia pascal, um momento particularmente solene. Eles devem ter se entreolhado com os pensamentos confusos: "O que é que Ele está fazendo agora?" Era muito estranho!
E o Mestre começa a lavar os pés de seus discípulos, um por um. Ao chegar, porém, a vez do impetuoso Pedro, a situação muda. Simão deve ter olhado para os seus pés, tão sujos e encardidos quanto o chão poeirento e vermelho da Palestina. Vislumbra a face meiga de Cristo e solta uma das suas: - Nunca me lavarás os pés!
Pedro, ou estava envergonhado da sujeira dos seus pés, ou julgava-se indigno de tê-los lavados por seu Mestre. Jesus, sem levar isso em consideração adverte: - Se eu te não lavar, não tens parte comigo. Disse-lhe então Pedro: Ah Senhor! Lava-me as mãos e cabeça também.
Esse fato deveria marcar também as nossas vidas com pelos menos duas lições daí provenientes. Primeiro: Não importa quão sujos estejam os nossos pés, o importante para Ele é que sejam limpos. O objetivo Dele é que as suas águas purificadoras lave-os. Segundo: A humildade demonstrada pelo Filho de Deus é o padrão de virtude capaz de estilhaçar a falsa humildade hoje existente. Que a pseudo-humildade dê lugar a uma maravilhosa humildade proveniente de amor de Deus.
Se você não conseguir lavar os pés do próximo, que pelo menos tire os seus sapatos, e dispa-se da arrogância!
Valmir Nascimento Milomem Santos
Por Valmir Nascimento Milomem Santos
Max Gehringer , executivo e palestrante internacional, em artigo publicado na Revista Você/SA, conta que em 1990 viajava pelo mundo implantando sistemas de controle de produção. Determinado dia, ele e seu colega de trabalho, um americano chamado Denis, foram parar em Bangkok, na Tailândia, onde a empresa havia acabado de adquirir uma fábrica de alimentos.
Eficientes que eram, resolveram tomar um tuk-tuk – um folclórico táxi tailandês de três rodas – e ir direto do aeroporto para a fábrica, para um inventário prévio de necessidades. Nenhum deles havia visitado a Tailândia antes e até esperavam deparar com situações pouco usuais, mas o que viram superou suas piores expectativas. Ao entrarem na área de fabricação, notaram de imediato que os trabalhadores não trajavam uniformes. Estavam todos de bermudas. E, o que era mais chocante, descalços!
Horrorizados com tamanha desconsideração dos ex-gestores da empresa para com os colaboradores, Max e Denis concordaram que a vistoria dos equipamentos e das instalações poderia ficar para depois. Primeiro, e urgentemente, era dever deles resolver o problema daquela gente humilde, trabalhando ali, certamente tristonha e desmotivada, com os pés no chão.
Segundo Gehringer: “Os funcionários devem ter percebido a nossa intenção, porque começaram a olhar insistentemente para nossos sapatos, como se eles fossem alguma maravilha tecnológica. Finalmente, naquela ânsia natural de tentarmos ser entendidos – ninguém ali na produção falava nossas línguas, e, óbvio, nós não falávamos tailandês – resolvemos estabelecer um diálogo através de gestos. Apontamos para nossos sapatos e para os pés nus dos funcionários, e fomos imediatamente correspondidos: eles acenaram positivamente com a cabeça enquanto diziam algo em seu idioma – provavelmente “Nós, os humildes, ficamos gratos por tanta consideração!”
Então, tudo resolvido: no dia seguinte, comprariam dois pares de sapatos para cada funcionário. Só com isso, teriam a certeza que conquistariam a confiança e a admiração daquela gente. Max e Denis imaginaram fazer da entrega dos sapatos uma grande festa motivacional e, enquanto discutiam os detalhes dela, ocorreu algo que vem ocorrendo em Bangkok já faz alguns milênios: a maré subiu e uma lâmina de água de 15cm cobriu o chão da fábrica. Tão rapidamente que ninguém teve tempo para correr.
Max assim comentou a cena: “Nossos sapatos ficaram arruinados e os tailandeses, convenientemente descalços, continuaram a trabalhar normalmente. Uma parte de Bangkok (eu e o Denis não sabíamos nem tivemos a humildade para pesquisar), é entrecortada por canais, cujo nível oscila com as marés. O que os trabalhadores estavam tentando nos dizer não tinha nada a ver com humildade. Era um aviso: “Tirem os sapatos depressa, antes que a água suba!”. Os sapatos deles – e todos eles tinham bons sapatos – estavam guardados e bem protegidos, nos vestiários da fábrica”.
Errando o foco
Max e Denis erraram completamente o foco da humildade. Pensaram estar agindo sob os auspícios da virtude e da empatia, quando na verdade, haviam desvirtuado a realidade. Não observaram corretamente o cenário que os cercava e com isso erraram as suas atitudes.
Assim como Max temos tido uma compreensão equivocada acerca da humildade. Um entendimento superficial da verdadeira virtude registrada nas páginas da Bíblia Sagrada. Nossas mentes medíocres e insensatas permanecem incapazes de assimilá-la. Nossos valores ainda não foram corretamente moldados à luz dos ensinamentos de Cristo.
Continuamos querendo dar “calçados novos” para as outras pessoas ao invés de “andarmos descalços”. Insistimos em dar presentes no lugar de conhecer necessidade. Tencionamos agradar o próximo, sem levar em consideração o cenário que os rodeia. Resultado de uma pseudo-humildade. Uma humildade fraca, sem propósitos e egoísta, revestida de mui bela aparência, porém, desprovida de conteúdo.
Cristo, o verdadeiro padrão de humildade.
Esse cenário leva-nos à busca de uma melhor compreensão acerca da verdadeira e maravilhosa humildade. Aquela que é o objetivo de Deus para a vida de seus filhos, cujo objeto está no próximo e não em si mesmos. Aquela que detêm o sabor do fruto do espírito, o conteúdo que alimenta a alma e exala aromas inefáveis. Aquela que é portadora da simplicidade do evangelho, que é prudente e constante.
Jesus foi e ainda é o melhor modelo de simplicidade. Da sua vida, de seus atos e das suas palavras é possível extrairmos lições e mais lições sobre humildade. Ensinamentos que se reunidos formariam uma biblioteca infindável para o conhecimento e deleite do homem. As lições que aprenderemos com o Filho de Deus não possuem somente grande extensão, mas, sobretudo, profundidade. Ensinamentos que trazem no seu bojo a sustância para alma que é capaz de transformar pensamentos e mudar as condutas.
Lavando os pés sujos dos discípulos
Um dos momentos marcantes da vida de Cristo e prova irrefutável da humildade do Mestre, é, segundo a minha ótica, o momento em que Ele lava os pés dos seus discípulos quando do evento da última ceia. O Deus-homem, já próximo ao término do plano de redenção, à beira do encontro com a cruz, efetua aquele que seria uma das maiores lições para os seus discípulos. Um ato que marcaria profundamente a lembrança dos seus apóstolos.
Após a ceia da Páscoa (João 13), Jesus apanha uma toalha e coloca água dentro da bacia. Imaginemos a surpresa dos discípulos ao verem Jesus se levantar da ceia, tirar o manto, isto no meio da ceia pascal, um momento particularmente solene. Eles devem ter se entreolhado com os pensamentos confusos: "O que é que Ele está fazendo agora?" Era muito estranho!
E o Mestre começa a lavar os pés de seus discípulos, um por um. Ao chegar, porém, a vez do impetuoso Pedro, a situação muda. Simão deve ter olhado para os seus pés, tão sujos e encardidos quanto o chão poeirento e vermelho da Palestina. Vislumbra a face meiga de Cristo e solta uma das suas: - Nunca me lavarás os pés!
Pedro, ou estava envergonhado da sujeira dos seus pés, ou julgava-se indigno de tê-los lavados por seu Mestre. Jesus, sem levar isso em consideração adverte: - Se eu te não lavar, não tens parte comigo. Disse-lhe então Pedro: Ah Senhor! Lava-me as mãos e cabeça também.
Esse fato deveria marcar também as nossas vidas com pelos menos duas lições daí provenientes. Primeiro: Não importa quão sujos estejam os nossos pés, o importante para Ele é que sejam limpos. O objetivo Dele é que as suas águas purificadoras lave-os. Segundo: A humildade demonstrada pelo Filho de Deus é o padrão de virtude capaz de estilhaçar a falsa humildade hoje existente. Que a pseudo-humildade dê lugar a uma maravilhosa humildade proveniente de amor de Deus.
Se você não conseguir lavar os pés do próximo, que pelo menos tire os seus sapatos, e dispa-se da arrogância!
Valmir Nascimento Milomem Santos