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Pr. Cleverson
16-04-05, 10:44 PM
A Parábola do Administrador Astuto

Gary Inrig

Uma das características das parábolas de nosso Senhor é sua capacidade de deixar as pessoas escandalizadas. Elas surpreendem e assustam. Os “heróis” são as pessoas que menos se espera. Isto é particularmente verdade na parábola do Administrador desonesto (Lucas 16.1-13). Esta história suscitou muita controvérsia e debate entre os seus intérpretes. Mas apesar das perguntas que ela evocou, ela nos confronta com uma verdade essencial sobre a vida como um discípulo. Lemos a descrição da parábola nos versículos 1 a 8 e em seguida temos os detalhes que o Senhor apresenta dos princípios que a história apresenta em si.

Jesus Apresenta a Parábola do Administrador Astuto

“Disse Jesus também aos discípulos: Havia um homem rico que tinha um administrador; e este lhe foi denunciado como quem estava a defraudar os seus bens. Então, mandando-o chamar, lhe disse: Que é isto que ouço a teu respeito? Presta contas da tua administração, porque já não podes mais continuar nela. Disse o administrador consigo mesmo: Que farei, pois o meu senhor me tira a administração? Trabalhar na terra não posso; também de mendigar tenho vergonha. Eu sei o que farei, para que, quando for demitido da administração, me recebam em suas casas. Tendo chamado cada um dos devedores do seu senhor, disse ao primeiro: Quanto deves ao meu patrão? Respondeu ele: Cem cados de azeite. Então, disse: Toma a tua conta, assenta-te depressa e escreve cinqüenta. Depois, perguntou a outro: Tu, quanto deves? Respondeu ele: Cem coros de trigo. Disse-lhe: Toma a tua conta e escreve oitenta. E elogiou o senhor o administrador infiel porque se houvera atiladamente, porque os filhos do mundo são mais hábeis na sua própria geração do que os filhos da luz” (Lucas 16.1-8).

Esta parábola nos leva ao mundo das finanças e da responsabilidade. O administrador era um mordomo. Isto significa que ele era um empregado, quem sabe de um senhor que vivia longe, ao qual foi incumbido o controle dos negócios de seu mestre e de seus fundos. Está claro, ele tinha a responsabilidade de usar esta confiança para aumentar os interesses de seu patrão, e não os seus próprios. Mas a tentação de desviar os fundos para seus próprios propósitos e prazeres foi grande. Ele desperdiçou o dinheiro, violando a confiança de seu mestre e administrando mal as possessões de seu dono. As notícias de sua má administração chegaram aos ouvidos do patrão. E quando ele foi confrontado com a possibilidade de perder o emprego, o homem não tinha nenhuma resposta.

Existe uma grande semelhança nesta história com a parábola do servo impiedoso, em Mateus 18. a repetição das circunstâncias mostra que a violação da confiança era tão comum no mundo antigo como também hoje. O homem certamente mereceu ser despedido do seu emprego. Mas é importante observar a posição exata do administrador, depois que o seu senhor disse: “Preste contas da sua administração, porque você não pode continuar sendo o administrador” (v.2).

Companhias modernas geralmente pedem que os empregados despedidos arrumem imediatamente as suas mesas de escritório, ou já o fizeram por eles. Mas para este administrador ainda foi dada mais uma oportunidade. A sua demissão era inevitável, mas ainda não era algo final ou público. Até que ele prestasse contas, ele ainda tinha um espaço para se mover. O tempo era curto, e era necessária uma ação imediata. Ele não tinha tempo a perder.

É aqui que se revela a sua astúcia. Ele sabia que as suas opções eram limitadas. Ele era demasiado fraco para o trabalho braçal e orgulhoso demais para mendigar. A não ser que agisse rápido, uma destas duas opções seria o seu destino. Mas ele conhecia o adágio: “Coça-me nas costas e eu coçarei as tuas”. Talvez ele podia fazer favores para algumas pessoas para que elas, por sua vez, tivessem obrigações para com ele.

O seu plano foi muito simples. Ele começou a chamar os fregueses de seu dono e alterou as suas dívidas. Afinal, ele havia administrado as contas do seu senhor e ainda tinha autoridade legal para agir no lugar de seu patrão.

Não sabemos o suficiente a respeito de práticas de negócios do primeiro século, para estarmos seguros do que estava se passando. Alguns comentaristas estão convencidos que todo o negócio era fraudulento e que ele estava envolvendo estas pessoas para enganarem o seu dono. Isto é possível, mas como estas pessoas, pelo que indica, continuariam a fazer negócios com o homem rico, parece que este não era o caso. O mais possível é que a transação foi sutil e semi-legal.

Segundo a Lei de Moisés, os homens de negócios judeus não podiam cobrar juros de outros judeus. Mas isto dificultava as transações comerciais. Por isso, seguia-se muitas vezes um subterfúgio. Quando era emprestado dinheiro, era ilegal escrever uma nota (fatura) que indicasse qualquer juro. Assim, as faturas escritas geralmente mostravam apenas uma quantia: o empréstimo principal, mais os interesses e taxas do administrador. Esta quantia muitas vezes era declarada em mercadorias (azeite, trigo) em vez de dinheiro. Desta forma, dava-se a impressão de que a lei era cumprida.

Se era assim, o administrador provavelmente estava suspendendo o valor real das notas, ao descontar as dívidas dos juros. Como estas cobranças não eram legais dentro da lei judaica, o seu mestre não tinha razões para fazer algo contra ele. Podemos presumir que os devedores estavam desconfiados dos motivos, mas que aceitaram a oferta, com satisfação. Com isso, ele deixou efetivamente o seu mestre sem poder agir, ficando dentro dos limites do que é legal e caiu nas boas graças com as pessoas que se lembrariam da sua gentileza.

A parábola termina com a afirmação: “O senhor elogiou o administrador desonesto, porque agiu astutamente” (v.8). É importante ver o que foi e o que não foi dito. O senhor não disse que estava contente com os atos de seu administrador, mas disse que ficou impressionado. O administrador havia atado as mãos dos seus empregados e alcançou os seus próprios fins. O senhor certamente não elogiou a desonestidade anterior do administrador, mas, como um atleta derrotado que faz comentários irônicos a respeito das habilidades e estratégias do oponente, ele foi obrigado a reconhecer o sucesso do homem.

Como a palavra astuto é a chave para esta história, é importante considerar cuidadosamente o seu significado. A palavra grega significa “agir com previsão” e é ilustrada no discurso de Jesus sobre o homem prudente (literalmente, o homem astuto) que construiu a sua casa sobre a rocha, antes de chegar a tempestade (Mateus 7.24). Ela também descreve as cinco virgens “prudentes” (astutas) que trouxeram óleo suficiente, em caso de alguma necessidade (Mateus 25.1-13). Esta foi a qualidade do homem desonesto. Ele agiu de forma decisiva no presente para assegurar-se para o futuro. O seu comportamento foi coerente com as suas circunstâncias. Ele reconheceu a sua crise e buscou a sua oportunidade porque tinha seu olhar fixo no futuro, e não somente no presente. Ele foi suficientemente astuto para agir com uma esperteza prática e com juízo.

A história é intrigante. Mesmo que pareça que o administrador astuto seja um herói, ele não o é. Mas nos seus atos, por mais duvidosos que sejam, podemos ver uma qualidade apresentada que os discípulos do Senhor deveriam demonstrar, se querem viver de forma efetiva neste mundo. Esta qualidade é apresentada na seqüente discussão do Senhor.

Jesus Discute os Princípios de um Discipulado Prudente

“E elogiou o senhor o administrador infiel porque se houvera atiladamente, porque os filhos do mundo são mais hábeis na sua própria geração do que os filhos da luz. E eu vos recomendo: das riquezas de origem iníqua fazei amigos; para que, quando aquelas vos faltarem, esses amigos vos recebam nos tabernáculos eternos. Quem é fiel no pouco também é fiel no muito; e quem é injusto no pouco também é injusto no muito. Se, pois, não vos tornastes fiéis na aplicação das riquezas de origem injusta, quem vos confiará a verdadeira riqueza? Se não vos tornastes fiéis na aplicação do alheio, quem vos dará o que é vosso? Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de aborrecer-se de um e amar ao outro ou se devotará a um e desprezará ao outro. Não podeis servir a Deus e às riquezas” (Lucas 16.8-13).

Discípulos Prudentes Usam Dinheiro para Alcançar Objetivos Eternos

A primeira mensagem em Lucas 16.8-13 é que a prudência junto com o dinheiro pode atingir alvos eternos. No versículo 9, Ele disse: “Usem a riqueza deste mundo ímpio para ganhar amigos”. A expressão “riqueza deste mundo ímpio” enfraquece o que Jesus na verdade disse, o que deveria ser traduzido: “o deus da injustiça”. Mamom é um termo interessante que inclui não somente dinheiro, mas também possessões. O Senhor deixou claro que mamom tem um poder enorme. Não é simplesmente neutral. Quando não é colocado sob a autoridade de Cristo, ele se torna um deus rival e conduz ao mal. Desta maneira, não trata simplesmente de uma “riqueza deste mundo” mas de um “mamom injusto”.

O Senhor nos chamou a reconhecer os limites da riqueza. “De forma que, quando ela acabar” (v.9) significa literalmente “quando acabar”, uma referência à morte, e não às dívidas. Paulo o apresentou desta maneira: “pois nada trouxemos para este mundo e dele nada podemos levar” (1Timóteo 6.7). A astúcia (prudência) nos força a reconhecer que o dinheiro é poderoso, mas limitado, temporário e passageiro. Parte de seu caráter é de que ele sempre vai acabar. Como Bernard of Clairvaux escreveu a séculos atrás: “O dinheiro não satisfaz a fome da mente  - assim como o ar não supre a necessidade do corpo, de pão”. Isto certamente se torna realidade no momento da morte. Ninguém o leva consigo.

A prudência junto com o dinheiro também nos mostra como pode ser usado para propósitos eternos. Jesus disse: “Para ganhar amigos, de forma que... estes os recebam nas moradas eternas” (v.9). Todo o crente vai receber as boas-vindas no céu, mas nem todos serão recebidos pelo mesmo número de amigos. Quando o nosso dinheiro é usado para suprir as necessidades de companheiros cristãos e quando o dinheiro é usado para propagar o Evangelho, podemos estar seguros que haverá conseqüências eternas. Nosso Pai afável vai revelar para os nossos companheiros santos como o uso do nosso dinheiro foi decisivo nas suas conversões ou em suprir as suas necessidades.

Poucas experiências são tão satisfatórias como visitar uma área onde você viveu alguma vez, e onde você ajudou, e ver as pessoas fazendo fila para contar-lhe da sua influência nas suas vidas, a maioria das quais foram totalmente inconscientes ou não reconhecidas na época. Imagine uma recepção assim no céu!

O Senhor nos chama a usarmos o dinheiro de forma prudente para razões eternas. Todavia, as estatísticas nos dizem que à medida que os salários disponíveis (ajustados à inflação) aumentaram 31% entre os membros de 31 denominações Protestantes, entre os anos 1968 e 1985 somente 2% destes salários disponíveis foi dado para igrejas e organizações cristãs (Chicago Tribune, 31 de julho, 1988). Em outras palavras, 98% do aumento foi destinado para manter o estilo de vida das pessoas. Num mundo de crescentes necessidades e oportunidades atraentes, isto não significa ser prudente com o dinheiro.

Os cristãos também devem viver de forma prudente, fazer estratégias, planejar, sonhar e usar a sua habilidade e a criatividade. Tempos radicais requerem soluções radicais, como ilustra a parábola do administrador infiel. O Senhor não está nos chamando a negócios usuais. O discípulo prudente deve perguntar: “Como posso investir o meu dinheiro ao máximo, para a eternidade?” Devemos ter cuidado em não gastar ou dar sem cuidado, com sentimentalismo ou de forma impulsiva. O Senhor nos chama a termos uma clara visão, olhando para frente, sendo pessoas prudentes.

Discípulos Prudentes Usam o Dinheiro à Luz das Conseqüências Eternas

Lucas 16.8-13 apresenta três mensagens principais. A primeira é que prudência junto com o dinheiro pode alcançar objetivos eternos. A segunda é esta: ser mordomo do dinheiro tem conseqüências eternas (v.10-12). Os princípios de uma mordomia são muito simples. O primeiro princípio é a maior exigência: “O que se requer destes encarregados é que sejam fiéis” (1Coríntios 4.2). O segundo princípio é a recompensa, que é explicada aqui pelo Senhor: “Quem é fiel no pouco, também é fiel no muito, e quem é desonesto no pouco, também é desonesto no muito” (v.10).

É nas pequenas coisas que provamos quem somos. Como observou certa vez o grande missionário Hudson Taylor: “Uma pequena coisa é uma pequena coisa, mas ser fiel numa pequena coisa é uma grande coisa”.

A fidelidade com o dinheiro é principalmente uma questão de caráter. Um biógrafo moderno explicou, com um comentário bastante perceptivo, por que ainda estava acrescentando uma outra biografia à Literatura, sobre o Duque de Wellington: “Eu tive uma vantagem com relação aos biógrafos anteriores. Eu encontrei um antigo livro-razão que mostrava como o Duque gastava o seu dinheiro. Foi uma pista muito melhor para o que ele achava que era realmente importante, do que simplesmente ler as cartas dos seus discursos”. Isto se aplica muito mais para as contas financeiras de um discípulo.

A prudência faz com que vejamos o “Mamom” de uma forma interessante. O paralelismo dos versículos 10-12 equipara o “pouco” (v.11) e “o que é de vocês” (v.12). A riqueza do presente, disse o Senhor, realmente é uma pequena coisa. Na verdade, ela não é nossa. Nós somos administradores, não os donos. Se usamos as nossas possessões presentes como se pertencessem a nós, e não ao Senhor, estamos agindo exatamente como o administrador infiel. Não somos donos de nada – mas administradores de tudo. O que possuímos deve ser usado para promover os propósitos e objetivos do Mestre. O valor principal da riqueza terrena é de que ela é um instrumento para nos treinar a lidar com as “verdadeiras riquezas”, o que se refere aos negócios do Reino de Deus.

Portanto, pessoas prudentes usam o dinheiro à luz das conseqüências eternas. Isto inclui oportunidades de servir ao Senhor Jesus, ao promover os Seus propósitos na terra bem como os privilégios de serviço dos quais iremos desfrutar no céu.

Discípulos Prudentes Reconhecem que a Mordomia do Dinheiro nos Guarda da Escravidão do Dinheiro

A terceira mensagem de Lucas 16.8-13 é encontrada no versículo 13: “Vocês não podem servir a Deus e ao Dinheiro”. Em outras palavras, discípulos prudentes reconhecem que ser mordomos do dinheiro nos guarda de sermos escravos do dinheiro. Podemos servir a Deus com o dinheiro, mas nunca podemos servir a Deus e ao dinheiro. Uma escolha é inevitável. Podemos ter somente um mestre. Jesus quer que compreendamos que não temos a opção de sermos donos do dinheiro. Podemos ser administradores do mesmo, ou podemos ser servos dele. Mas estas são as nossas únicas opções. O Mamom sempre procura ocupar o lugar de Deus.

O Senhor usou uma personificação vívida nesta discussão para nos forçar a reconhecer a ausência de um meio-termo. Ou nossas riquezas pertencem a Deus ou nós pertencemos a elas. Como Henry Fielding escreveu certa vez: “Faça do dinheiro o seu deus e ele o (a) atormentará como o diabo”.

Todos nós servimos a algo ou a alguém. Para Jesus, não existe um discipulado parcial, e não existe um emprego de meio expediente com o dinheiro. Nós precisamos escolher a quem queremos ser leais. Quando escolhemos ao Senhor como o nosso único mestre, Ele não tira de nós o dinheiro. Na verdade, Ele toma o dinheiro e o transforma num aliado. O mesmo real que é usado para uma aposta, para pagar uma prostituta ou comprar cocaína, também compra uma Bíblia, faz um poço ou suporta um missionário. O mesmo real que o administrador infiel usa para pavimentar o seu caminho para um futuro dourado, um discípulo prudente usa para investir em amizades eternas. Mas a diferença é o produto da escolha dos mestres.

Como adquirimos o nosso dinheiro? O que queremos comprar com o nosso dinheiro? Quando e como damos o nosso dinheiro? Onde veríamos empregar os nossos recursos? Estas são perguntas que um discípulo prudente faz ao competir comeste estranho “herói”, um homem que agiu decisivamente com os seus recursos do presente para tirar o máximo proveito das suas oportunidade no futuro.

Conta-se a história de um homem que naufragou e parou numa ilha isolada e desconhecida. Para sua surpresa, ele viu que não estava sozinho. Uma grande tribo de pessoas vivia naquela ilha. Para o seu prazer, ele descobriu que os outros o tratavam muito bem. Aliás, eles o colocaram num trono e atendiam a todos os seus desejos. Ele estava encantado – mas perplexo. Por que recebia um tratamento assim, de realeza? À medida que a sua habilidade de se comunicar aumentava, ele descobriu que o costume da tribo era a de escolher um rei a cada ano. Então, quando expirava o seu período, ele era transportado para uma ilha especial e abandonado.

O seu prazer foi substituído pela angústia. Então ele pensou num plano astuto. Nos meses seguintes, ele enviou membros da tribo para limpar e cultivar a outra ilha. Ele os fez construir uma casa bonita, mobiliou-a e colheu as safras. Ele mandou alguns amigos escolhidos para viver ali e para esperarem por ele. Então, quando chegou o seu tempo de exílio, ele foi colocado num lugar que havia sido cuidadosamente preparado e cheio de amigos que estavam contentes em recebê-lo.

Os discípulos não estão seguindo para uma ilha deserta. O nosso destino é o lar do Pai Celestial. Todavia, os preparativos que fazemos aqui nos seguirão lá. Se formos prudentes, teremos amigos eternos e seremos recebidos com recompensas eternas. Os imprudentes servem ao dinheiro e deixam tudo atrás de si. Crentes prudentes servem a Deus e investem na eternidade.


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