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Raquel_Pereira
15-07-04, 04:41 PM
O BEIJO DO PAPAI



É impressionante observar-se a humildade de uma criança. Ela desconhece o ódio, os conflitos, as barreiras e contradições. É apenas um ser indefeso e carente de afeto, proteção e amor. Todavia, ela também sabe dar amor e despertar confiança naqueles que a protegem.

Conta-se que, no tempo da guerra entre a Rússia e o Japão, certa tarde, após cessarem os bombardeios, junto à linha de fogo surgiu uma criança perscrutando, com o olhar curioso e indagador, como quem procura descobrir um semblante saudoso e querido naquele triste campo de batalhas. Ao ver a pequena, um bravo soldado japonês que podia dominar a língua eslavo-oriental, tomando em suas mãos calosas as acetinadas mãozinhas da criança, indagou com ternura:

-O que deseja, minha pequena? Está procurando algo no meio da tropa? Quem é você? De onde vem? Qual é o seu nome?

-Meu nome é Lina. Estou procurando o papai, que há muito tempo não vejo. Sinto tanta saudade e desejava vê-lo agora.

-Que pena... O seu papai já não está mais aqui. Ele seguiu em frente. Posso lhe dar algum recado? Fale-me sobre como ele é e vou procurá-lo e dar suas notícias. Está bem?

-É fácil distinguí-lo... Meu pai é alto, forte, tem olhos azuis como os meus e um bonito rosto barbado. Os cabelos também são loiros.

E a criança, esperançosa, tirou do bolsinho do avental uma foto do pai, dizendo sorridente:-Dou-lhe esta foto para que o reconheça. Ele se chama Ivan.

O soldado, comovido, colocou o retrato no bolso da sua túnica e indagou com enorme carinho:

-Bem, agora qual é o recado que vai deixar comigo para o seu papai?

-Não é nenhum recado que eu quero que lhe dê...

-Então o que é? Pode falar que eu prometo fazer o que pede.

-Sim, eu quero que chegue juntinho dele e entregue esse meu beijo.

Assim dizendo, a pequena pulou ao colo do soldado e beijou-lhe o rosto umedecido pelas lágrimas e voltou correndo por onde havia chegado.

Durante toda aquela noite foi intenso o bombardeio e num assalto a tropa japonesa conquistou o inimigo. Os feridos começaram a ser recolhidos indistintamente. Nisto, aquele soldado japonês viu passar, carregado, um soldado cujas feições se assemelhavam muito às da criança. Tirou a foto do bolso e conferiu. Não havia dúvidas. Era ele. O soldado o chama:

-Ivan?

-O que deseja? -respondeu o russo ferido.

-Trago comigo um carinhoso beijo que Lina, sua filhinha, lhe enviou.

Dizendo isto, beijou a fronte do inimigo ferido e o abraçou ternamente. Não havia ali lugar para o ódio, foi o que aprendeu com Lina.

(desconhecido)

Miriam B. Rocha
23-07-09, 11:34 AM
Querida, como Deus nos prepara surpresas!
Hoje li o que você postou em 2004 e fiquei emocionada.
Minha mãe gostava muito de poesias e nos fazia decorar para apresentar nas festas da igreja.
Pois eu decorei a poesia: "O beijo do papai" e ainda lembro-me de quase tudo.
Olha que foi pelos anos de 1950 ....
Você pode imaginar que eu era menina naquele tempo.
E em forma de texto está quase como nos versos.
Pois já salvei nos meus arquivos.
Que saudade deu-me de minha mãe e dos tempos em que se tinha alma poética.
Obrigada pela surpresa!