Valmir Nascimento
03-07-04, 11:36 AM
A LÓGICA NA APOLOGIA DO PENSAMENTO CRISTÃO - I
“O evangelho é um sistema lógico, que apela à inteligência humana; é uma questão que requer raciocínio e consideração, e apela à consciência e a capacidade de reflexão.” Charles H. Spurgeon
...
Por: Valmir Nascimento Milomem Santos
A capacidade de pensar e raciocinar são inerentes ao ser humano. Vislumbrando sua linha histórica observa-se que o homem, este ser dotado de um intelecto em potencial e uma capacidade de pensamento sublime, sempre objetivou possuir todas as formas possíveis de conhecimento.
O passado registra a biografia de pensadores que impulsionados pela magia do saber e as divisas do conhecimento dilapidavam seus intelectos, segundo um raciocínio lógico e sistemático, tencionando auferir um grau elevado de conhecimento tal qual pudesse compreender todas as informações possíveis ao seu derredor.
Neste âmbito todas as formas de pensamento que defenda uma cosmovisão são postas em debate, de maneira a analisar suas ponderações e prerrogativas sempre com o objetivo de provar se são válidos ou inválidos, se são verdadeiros ou falsos, se são reais ou irreais, se atingíveis ou utópicos, enfim, analisar a veracidade do axioma segundo uma metodologia e um entendimento racional.
Por consistir em uma forma de pensamento e uma cosmovisão, por assim dizer universal, o cristianismo também é passivo de tal exame. Há mais de dois mil anos o pensamento cristão vêm sendo debatido; defendido ou atacado, perdura; posto à prova, subsiste. Pelo poder da palavra de Deus as doutrinas bíblicas vêm suportando o ataque de homens céticos e doutrinas agnósticas, vencendo nações e reinos que se levantaram contra ela.
Sendo então o Cristianismo o maior pensamento existente, defendido direta ou indiretamente por mais de dois bilhões no mundo contemporâneo, no limiar do pensamento pós-moderno onde o relativismo é defendido com unhas e dentes por muitos, em meio a uma idéia humanista voltado par o antropocentrismo, cujos pilares firmam-se na nova era. Neste contexto, onde mais que nunca o pensamento cristão é provado, perguntamos: O Cristianismo é lógico? É passivo de uma análise racional baseada na metodologia, ou somente um “salto no escuro” onde seus adeptos aceitam cegamente suas doutrinas sem ponderar sua validade?
Esta é então uma das grandes perguntas que deve o cristão estar preparado a responder; com fulcro na lógica do pensamento e no raciocínio sistêmico fazer uma apologia do cristianismo como sendo a verdadeira cosmovisão (maneira de ver o mundo) existente tanto hoje como sempre. Mais ainda, ressaltar a logicidade da fé do homem em relação ao um Deus pessoal e presente na humanidade.
Considerações sobre a lógica no Pensamento cristão
O objetivo deste artigo é elucidar o pensamento cristão sob a égide de um raciocínio lógico e convincente, amparado por uma análise sistêmica dos argumentos, objetivando dissolver os preconceitos de que o Cristianismo é somente uma estória ou simplesmente uma religião em que as pessoas mudam seus hábitos de vida, e passam a seguir dogmas, sem antes auferir uma crítica da igreja e seus ensinamentos.
Por certo que os argumentos aqui propostos não são as razões únicas da crença na Verdade Absoluta pregada pelo Cristianismo. A abordagens relacionadas são acessórias de outros elementos principais, de modo que a crença em Deus, na Salvação, em Jesus Cristo e nas demais doutrinas cristãs sempre serão baseados em evidências de cunho prático e não intelectual, vez que cremos em um Deus que ultrapassa os limites do intelecto, de forma que a maioria dos argumentos tornam-se inefáveis.
Concordo com as palavras do Dr. Antonino Zichichi, Doutor em Física Nuclear e Presidente da World Federation of Scientist em seu livro “Por que acredito Naquele que fez o Mundo”.
“Podemos construir muitas lógicas. E todas rigorosas. Por isso, não basta o rigor lógico para decifrar a construção Lógica da Criação. O rigor lógico é uma condição necessária mas não suficiente para entender como o mundo foi feito. De onde vem e para onde vai”.
A maior prova da logicidade do pensamento cristão, encontra-se no relacionamento empírico que podemos ter com um Deus Todo Poderoso que faz todas as coisas para poder nos tocar e conosco relacionar-se; é o sentimento que o ser humano possui da ciência de que existe alguém que rege todas as coisas; e acima de tudo, a presença marcante deste Deus na vida do homem através do Espírito Santo . Destarte, o cristão ao pregar o evangelho como sendo um sistema lógico deve antes de tudo possuir uma vida conivente com a Palavra de Deus, uma vida transformada, regenerada e, sobretudo, liberta dos valores mundanos.
Foi este pensamento que Pedro expressou em I Pedro 3:15 “Antes santificai a Cristo, como Senhor, em vossos corações; e estai sempre preparados para responder com mansidão e temor qualquer que vos pedir a razão da esperança que há em vos”. Ou seja, existe uma ordem na pregação do evangelho. Primeiramente de ordem espiritual depois intelectual. Ambas são importantes não podendo haver exagero em nenhuma delas, não e suficiente focar somente no espiritual, em estudos bíblicos e campanhas evangelisticas, enquanto fecharmos os olhos para as tensões distintivas da vida contemporânea .
Destarte, a lógica aqui proposta para defesa do pensamento cristão será não somente aquela que compreende o raciocínio intelectual, antes englobará também o quesito resultado ou praticidade, buscando relacionar o Pensamento cristão a uma prática diária, e não somente em aspectos meramente pedagógicos.
Então, o uso apropriado de lógica em apologética é vencer os obstáculos intelectuais que impedem uma pessoa de aceitar a Jesus como Salvador. A lógica não é vista como a resposta a cada problema que enfrenta a cristandade a cada objeção levantada. A lógica tem seus limites. Não pode garantir sabedoria. Não pode demonstrar ou pode negar inspiração ou amor. Não pode recolocar a intuição adquirida pela experiência do Espírito Santo, nem a clara verdade da palavra de Deus. Não obstante, a lógica é muito importante e necessária na evangelização, sobretudo para pessoas de grau mais elevado intelectualmente.
A lógica e suas raízes
O primeiro passo será o entendimento do instituto da lógica, visualizando seu conceito, historicidade e as várias formas de atuação, depois aplicaremos a lógica na apologética e por fim, na parte II, apresentaremos os argumentos racionais da cosmovisão cristã.
Todos os conceitos de lógica sempre deixarão a desejar, pelo fato de ser um assunto amplo, sempre ficaremos aquém da completa definição, é como quando saímos para viajar, sabemos que estamos esquecendo algo, mas não lembramos o que ao certo.
Num conceito mais formal Lógica é a ciência que tem por objeto determinar, entre operações intelectuais orientadas para o conhecimento da verdade, as que são válidas e as que não são. Estuda os processos e as condições de verdade de todo e qualquer raciocínio. O conhecimento só é científico quando, além de universal, é metódico e sistemático, ou seja, lógico. Assim, a lógica se entende com método, ou caminho que as ciências trilham para determinar e conhecer seu objeto, e como característica geral do conhecimento científico.
A lógica foi desenvolvida de forma independente e chegou a certo grau de sistematização na China, entre os séculos V e III a.C., e na Índia, do século V a.C. até os séculos XVI e XVII da era cristã. Na forma com é conhecimento no Ocidente, tem origem na Grécia.
O mais remoto precursor da lógica formal é Parmênides de Eléia, que formulou pela primeira vez o princípio de identidade e de não-contradição. Seu discípulo Zenão foi fundador da dialética, segundo Aristóteles, por ter empregado a argumentação erística (arte da disputa ou da discussão) para refutar quem contestasse as teses referentes à unidade e à imobilidade do ser.
Os sofistas, mestres da arte de debater contra ou a favor de qualquer opinião com argumentos que envolviam falácias e sofismas, também contribuíram para a evolução da lógica, pois foram os primeiros a analisar a estrutura e as formas da linguagem. Foi, sobretudo, em vista do emprego vicioso do raciocínio pelos sofistas que o antecederam que Aristóteles foi levado a sistematizar a lógica.
Sócrates definiu a lógica universal, ou essência das coisas, como o objeto do conhecimento científico e, com isso, preparou a doutrina platônica das idéias. Ao empregar o diálogo como método de procura e descobrimento das essências e antecipou a dialética platônica, bem como a divisão dos universais em gênero e espécies (e das espécies em subespécies), o que permitiu situar ou incluir cada objeto ou essência no lugar lógico correspondente.
Lógica de Aristóteles
Aristóteles é considerado o fundador da lógica formal por ter determinado que a validade lógica de um raciocínio depende somente de sua forma ou estrutura, e não de seu conteúdo. Introduziu a analise da quantificação dos enunciados e das variáveis, realizou o estudo sistemático dos casos em que dois enunciados implicam um terceiro, estabeleceu o primeiro sistema dedutivo ou silogístico e criou a primeira lógica modal, que, ao contrário da lógica pré-aristotélica, admitia outras possibilidades além de “verdadeiro” e “falso”.
No século II da era cristã, as obras de Aristóteles sobre lógica foram reunidas por Alexandre de Afrodisia sob a designação geral de Órganon. Inclui seis tratados, cuja seqüência corresponde ao à divisão do objeto da lógica. Estuda as três operações da inteligência: o conceito, o juízo e o raciocínio.
Conceito é uma mera representação mental do objeto. Juízo é um ato metal de afirmação ou de negação de uma idéia a respeito de outra, isto é, da coexistência de um sujeito e um predicado. Raciocínio é a articulação de vários juízos. O objeto próprio da lógica não é o conceito nem o juízo, mas o raciocínio, que permite a progressão do pensamento. Em outras palavras não há pensamento estruturado quando se consideram idéias isoladas.
Em Perí hermenéias (Da interpretação), um dos tratados do Órganon, Aristóteles estuda a proposição, que é a expressão verbal do juízo. O juízo é verdadeiro quando une na proposição o que está unido na realidade, ou separa, na proposição, o que realmente está separado. A verdade é, assim, a adequação ou a correspondência entre o juízo e a realidade. Esse tratado procura principalmente determinar as oposições possíveis entre proposições.
Lógica na Idade Média
Traduzidos para o latim por Boécio, alguns tratados da obra de Aristóteles passaram a ser usados, na Idade Média, no ensino da lógica, incluída nas disciplinas dos cursos de direito e teologia. A esterelidade criativa que predominou durante cerca de cinco séculos só foi interrompida no século XII com a dialética de Abelardo, teólogo iminente e controvertido, autor de Sci et non (Sim e Não).
Lógica no Renascimento
A tradição da lógica medieval sobreviveu por mais de três séculos após ter atingido a maturidade no século XIV. Entretanto o clima intelectual que se estabeleceu no Ocidente com o advento do Renascimento e do humanismo não estimulava o estudo da lógica. O crescimento das ciências naturais também contribuiu para o abandono da lógica que, como disciplina dedutiva, cedeu lugar às pesquisas metodológicas.
Uma nova atitude em relação à lógica surgiu no século XVI com Petrus Ramus (Pierre de La Ramée), lógico antiaristotélico e reformador educacional, descreveu a lógica como sendo a “arte de discutir” e distingui-a da gramática e da retórica que, ao seu ver, concentrava-se nas questões relativas ao estilo. De acordo com Ramus a lógica deveria tratar de conceitos, juízos, inferências e provas, nessa ordem de prioridade. Entre as inferências, incluía os silogismos categóricos e hipotéticos.
Lógica Moderna
Com Leibniz, no século XVII teve inicio a lógica moderna, que desenvolveu em cooperação com a matemática. Leibniz influenciou seus contemporâneos e sucessores com um ambicioso plano para a lógica, que para ele deixava de ser “uma diversão para acadêmicos” e começava a tomar a forma de uma “matemática universal”. Seu plano propunha uma linguagem universal baseado num alfabeto do pensamento (ou characteristica universallis), um cálculo geral do raciocínio e uma metodologia geral.
Lógica Matemática
Por influencia do pensamento de Aristóteles, lógica dizia respeito, tradicionalmente, apenas à proposições da linguagem verbal. A partir do século XIX, no entanto, seus princípios foram aplicados à linguagem simbólica da matemática.
Lógica matemática é pó conjunto de estudos que visam a expressar em signos matemáticos as estruturas e operações do pensamento, deduzindo-as de um pequeno numero de axiomas, como o propósito de criar uma linguagem rigorosa, adequada ao pensamento cientifico, da qual estejam afastadas as ambigüidades próprias da linguagem comum, ou seja modelos, para cuja definição se enunciam certos axiomas (conceitos básicos) e métodos de dedução e demonstração.
Lógica na Apologia
Apologia segundo o dicionário Aurélio vem a ser um “Discurso de Defesa ou louvor”. A palavra responder vem do grego “apologia”, de onde obtemos o termo apologética, significando uma defesa ou a justificação do que acreditamos.
Em outras palavras, Apologia é a arte e a ciência de defender a fé cristã. Nos tempos dos gregos, quando alguém era acusado de alguma infração, o acusado tinha a oportunidade de prestar sua “apologia”. Para os cristãos, isso poderia significar responder à pergunta: “Por que vocês acreditam em Jesus, o Nazareno, é Deus mesmo” ou mais provável neste dias: “Por que os cristãos acham que só eles têm a verdade?.
Desta forma, apologia é em primeiro lugar uma defesa. Um segundo aspecto da apologia é desafiar as crenças dos outros que são contrárias à nossa fé. Um terceiro aspecto é apresentar evidências positivas em favor da fé. Em suma, as três áreas da apologia são: uma defesa da fé, uma ofensiva contra as crenças contrárias à fé e uma ofensiva em favor das doutrinas cristãs.
Paulo ressaltou este ministério como “defesa e confirmação do evangelho” (Fil. 1:17). O Apóstolo Pedro como já mencionado, disse que deveríamos estar “sempre preparados para responder com mansidão e temor a qualquer que vos pedir a razão da esperança que há em vós” (I Pedro 3:15).
Segundo Rick Wade:
“A apologia tipicamente é uma resposta a uma pergunta ou desafio. Nos tempos de Paulo ele teve que tentar tirar os obstáculos da cruz de cristo dos pensamentos dos judeus. No segundo século os apologistas cristãos tiveram que defender não só as doutrinas cristãs, mas também os próprios cristãos das acusações do ateísmo e canibalismo. Depois tiveram que defender a fé dos ataques dos desafios do islamismo. Na era da iluminação e por muitas décadas depois defenderam a fé dos ataques do racionalismo e cientificismo. Hoje o desafio maior é defender a afirmação que existe um conhecimento certo da verdade absoluta e que na verdade se encontra na Bíblia.Assim como nossos passados, nós temos que dar respostas racionais e certas pela esperança que temos em Cristo. Nos compete lidar com assuntos contemporâneos por mais que sejam difíceis e incômodos para nós.”
Atualmente urge a defesa da verdade absoluta, pois impera-se na sociedade e nos meios intelectuais chamado relativismo, onde todas as coisas são relativas, a verdade, Deus, a Salvação. Tudo depende das circunstâncias e do que a pessoa têm no coração, todos os caminhos levam à Deus.
De modo que o pensamento cristão com a idéia de verdade absoluta passa a ser tido como dogmatismo, “donos da verdade”, aí a discussão ganha volume e o debate torna-se mais caloroso, e nestas circunstâncias o cristão, além de ter um grande conhecimento da Palavra de Deus, terá ainda que entender um pouco sobre ciência, filosofia, sociologia e outros temas que adentrem no assunto do homem em relação a Deus.
Finalidade
Não é objetivo da Apologia tão somente ganhar discussões no âmbito filosófico, doutrinário ou teológico, antes pretende cumprir o Ide do Senhor Jesus, qual seja, pregar o Evangelho a todas a criaturas, que no caso em questão será corroborado por um estudo minucioso da Palavra de Deus e das Doutrinas cristãs, para destruir todas as cosmovisões que sejam antagônicas ao cristianismo.
Nas palavras de Charles Colson:
Debater pode ser algumas vezes desagradável, mas pelo menos pressupõe que há verdades dignas de serem defendidas, idéias dignas de se lutar por elas. Em nossa era pós-moderna, todavia, as suas verdades são as suas verdades, as minhas verdades são as minhas, e nenhuma é significativa o suficiente para alguém se apaixonar por ela. E se não há verdade, então não podemos persuadir um ao outro através de argumentos racionais. Tudo o que resta é puro poder.
E este poder poderia certamente ser aquele sugerido por Moody no seu livro “O Poder Secreto”:
“Se quisermos trabalhar... tendo em vista um propósito definido, precisamos ter o poder do alto. Sem esse poder, nossos esforços não passarão de mero e enfadonho trabalho. Com esse poder, nossa labuta se transformará numa tarefa alegre, num serviço agradável.”
“A proclamação do evangelho não pode estar divorciada do Espírito Santo. A menos que Ele dê poder à palavra, infrutíferas serão nossas tentativas em pregá-la. A eloqüência humana – ou a persuasão da linguagem – não passam de mera aparência exterior de um morto, se o Espírito vivo não estiver presente. O profeta pode pregar aos ossos no vale, mas tem de haver o sopro do céu para que tornem a viver.”
Quem deve utilizar a Apologia:
Embora muitos cristãos pensem que a apologética seja de uso estrito aos intelectuais, ela deve ser utilizada por todo cristão verdadeiro. Neste sentido escreveu Charles Colson:
“ A responsabilidade pela apologética não é limitada aos pastores cristãos ou aos intelectuais. Quando desafio pessoas a aprenderem a defesa da fé e”pensar como cristãos” , freqüentemente respondem: “Oh, eu não estou pronto para isso”, ou: “É muito profundo para mim”. Mas Deus criou cada um de nós com uma mente, com a capacidade de estudar, pensar e fazer perguntas. Ninguém é expert em toda as áreas, mas cada um de nós pode dominar os assuntos nos quais tem alguma experiência.”
E Hank Hanegraaf:
“Um número demasiadamente grande de pessoas acredita que a apologética é do domínio exclusivo dos eruditos e teólogos. Não é verdade ! A defesa da fé não é algo opcional; é um treinamento básico par todo crente. ”
Isto posto, vislumbramos a necessidade do uso da apologia para a defesa do evangelho, como pressuposto básico de ganhar almas, pois quem o faz sábio é!
O próximo passo será analisar os argumentos lógicos que dão base ao pensamento cristão.
Valmir Nascimento Milomem Santo
“O evangelho é um sistema lógico, que apela à inteligência humana; é uma questão que requer raciocínio e consideração, e apela à consciência e a capacidade de reflexão.” Charles H. Spurgeon
...
Por: Valmir Nascimento Milomem Santos
A capacidade de pensar e raciocinar são inerentes ao ser humano. Vislumbrando sua linha histórica observa-se que o homem, este ser dotado de um intelecto em potencial e uma capacidade de pensamento sublime, sempre objetivou possuir todas as formas possíveis de conhecimento.
O passado registra a biografia de pensadores que impulsionados pela magia do saber e as divisas do conhecimento dilapidavam seus intelectos, segundo um raciocínio lógico e sistemático, tencionando auferir um grau elevado de conhecimento tal qual pudesse compreender todas as informações possíveis ao seu derredor.
Neste âmbito todas as formas de pensamento que defenda uma cosmovisão são postas em debate, de maneira a analisar suas ponderações e prerrogativas sempre com o objetivo de provar se são válidos ou inválidos, se são verdadeiros ou falsos, se são reais ou irreais, se atingíveis ou utópicos, enfim, analisar a veracidade do axioma segundo uma metodologia e um entendimento racional.
Por consistir em uma forma de pensamento e uma cosmovisão, por assim dizer universal, o cristianismo também é passivo de tal exame. Há mais de dois mil anos o pensamento cristão vêm sendo debatido; defendido ou atacado, perdura; posto à prova, subsiste. Pelo poder da palavra de Deus as doutrinas bíblicas vêm suportando o ataque de homens céticos e doutrinas agnósticas, vencendo nações e reinos que se levantaram contra ela.
Sendo então o Cristianismo o maior pensamento existente, defendido direta ou indiretamente por mais de dois bilhões no mundo contemporâneo, no limiar do pensamento pós-moderno onde o relativismo é defendido com unhas e dentes por muitos, em meio a uma idéia humanista voltado par o antropocentrismo, cujos pilares firmam-se na nova era. Neste contexto, onde mais que nunca o pensamento cristão é provado, perguntamos: O Cristianismo é lógico? É passivo de uma análise racional baseada na metodologia, ou somente um “salto no escuro” onde seus adeptos aceitam cegamente suas doutrinas sem ponderar sua validade?
Esta é então uma das grandes perguntas que deve o cristão estar preparado a responder; com fulcro na lógica do pensamento e no raciocínio sistêmico fazer uma apologia do cristianismo como sendo a verdadeira cosmovisão (maneira de ver o mundo) existente tanto hoje como sempre. Mais ainda, ressaltar a logicidade da fé do homem em relação ao um Deus pessoal e presente na humanidade.
Considerações sobre a lógica no Pensamento cristão
O objetivo deste artigo é elucidar o pensamento cristão sob a égide de um raciocínio lógico e convincente, amparado por uma análise sistêmica dos argumentos, objetivando dissolver os preconceitos de que o Cristianismo é somente uma estória ou simplesmente uma religião em que as pessoas mudam seus hábitos de vida, e passam a seguir dogmas, sem antes auferir uma crítica da igreja e seus ensinamentos.
Por certo que os argumentos aqui propostos não são as razões únicas da crença na Verdade Absoluta pregada pelo Cristianismo. A abordagens relacionadas são acessórias de outros elementos principais, de modo que a crença em Deus, na Salvação, em Jesus Cristo e nas demais doutrinas cristãs sempre serão baseados em evidências de cunho prático e não intelectual, vez que cremos em um Deus que ultrapassa os limites do intelecto, de forma que a maioria dos argumentos tornam-se inefáveis.
Concordo com as palavras do Dr. Antonino Zichichi, Doutor em Física Nuclear e Presidente da World Federation of Scientist em seu livro “Por que acredito Naquele que fez o Mundo”.
“Podemos construir muitas lógicas. E todas rigorosas. Por isso, não basta o rigor lógico para decifrar a construção Lógica da Criação. O rigor lógico é uma condição necessária mas não suficiente para entender como o mundo foi feito. De onde vem e para onde vai”.
A maior prova da logicidade do pensamento cristão, encontra-se no relacionamento empírico que podemos ter com um Deus Todo Poderoso que faz todas as coisas para poder nos tocar e conosco relacionar-se; é o sentimento que o ser humano possui da ciência de que existe alguém que rege todas as coisas; e acima de tudo, a presença marcante deste Deus na vida do homem através do Espírito Santo . Destarte, o cristão ao pregar o evangelho como sendo um sistema lógico deve antes de tudo possuir uma vida conivente com a Palavra de Deus, uma vida transformada, regenerada e, sobretudo, liberta dos valores mundanos.
Foi este pensamento que Pedro expressou em I Pedro 3:15 “Antes santificai a Cristo, como Senhor, em vossos corações; e estai sempre preparados para responder com mansidão e temor qualquer que vos pedir a razão da esperança que há em vos”. Ou seja, existe uma ordem na pregação do evangelho. Primeiramente de ordem espiritual depois intelectual. Ambas são importantes não podendo haver exagero em nenhuma delas, não e suficiente focar somente no espiritual, em estudos bíblicos e campanhas evangelisticas, enquanto fecharmos os olhos para as tensões distintivas da vida contemporânea .
Destarte, a lógica aqui proposta para defesa do pensamento cristão será não somente aquela que compreende o raciocínio intelectual, antes englobará também o quesito resultado ou praticidade, buscando relacionar o Pensamento cristão a uma prática diária, e não somente em aspectos meramente pedagógicos.
Então, o uso apropriado de lógica em apologética é vencer os obstáculos intelectuais que impedem uma pessoa de aceitar a Jesus como Salvador. A lógica não é vista como a resposta a cada problema que enfrenta a cristandade a cada objeção levantada. A lógica tem seus limites. Não pode garantir sabedoria. Não pode demonstrar ou pode negar inspiração ou amor. Não pode recolocar a intuição adquirida pela experiência do Espírito Santo, nem a clara verdade da palavra de Deus. Não obstante, a lógica é muito importante e necessária na evangelização, sobretudo para pessoas de grau mais elevado intelectualmente.
A lógica e suas raízes
O primeiro passo será o entendimento do instituto da lógica, visualizando seu conceito, historicidade e as várias formas de atuação, depois aplicaremos a lógica na apologética e por fim, na parte II, apresentaremos os argumentos racionais da cosmovisão cristã.
Todos os conceitos de lógica sempre deixarão a desejar, pelo fato de ser um assunto amplo, sempre ficaremos aquém da completa definição, é como quando saímos para viajar, sabemos que estamos esquecendo algo, mas não lembramos o que ao certo.
Num conceito mais formal Lógica é a ciência que tem por objeto determinar, entre operações intelectuais orientadas para o conhecimento da verdade, as que são válidas e as que não são. Estuda os processos e as condições de verdade de todo e qualquer raciocínio. O conhecimento só é científico quando, além de universal, é metódico e sistemático, ou seja, lógico. Assim, a lógica se entende com método, ou caminho que as ciências trilham para determinar e conhecer seu objeto, e como característica geral do conhecimento científico.
A lógica foi desenvolvida de forma independente e chegou a certo grau de sistematização na China, entre os séculos V e III a.C., e na Índia, do século V a.C. até os séculos XVI e XVII da era cristã. Na forma com é conhecimento no Ocidente, tem origem na Grécia.
O mais remoto precursor da lógica formal é Parmênides de Eléia, que formulou pela primeira vez o princípio de identidade e de não-contradição. Seu discípulo Zenão foi fundador da dialética, segundo Aristóteles, por ter empregado a argumentação erística (arte da disputa ou da discussão) para refutar quem contestasse as teses referentes à unidade e à imobilidade do ser.
Os sofistas, mestres da arte de debater contra ou a favor de qualquer opinião com argumentos que envolviam falácias e sofismas, também contribuíram para a evolução da lógica, pois foram os primeiros a analisar a estrutura e as formas da linguagem. Foi, sobretudo, em vista do emprego vicioso do raciocínio pelos sofistas que o antecederam que Aristóteles foi levado a sistematizar a lógica.
Sócrates definiu a lógica universal, ou essência das coisas, como o objeto do conhecimento científico e, com isso, preparou a doutrina platônica das idéias. Ao empregar o diálogo como método de procura e descobrimento das essências e antecipou a dialética platônica, bem como a divisão dos universais em gênero e espécies (e das espécies em subespécies), o que permitiu situar ou incluir cada objeto ou essência no lugar lógico correspondente.
Lógica de Aristóteles
Aristóteles é considerado o fundador da lógica formal por ter determinado que a validade lógica de um raciocínio depende somente de sua forma ou estrutura, e não de seu conteúdo. Introduziu a analise da quantificação dos enunciados e das variáveis, realizou o estudo sistemático dos casos em que dois enunciados implicam um terceiro, estabeleceu o primeiro sistema dedutivo ou silogístico e criou a primeira lógica modal, que, ao contrário da lógica pré-aristotélica, admitia outras possibilidades além de “verdadeiro” e “falso”.
No século II da era cristã, as obras de Aristóteles sobre lógica foram reunidas por Alexandre de Afrodisia sob a designação geral de Órganon. Inclui seis tratados, cuja seqüência corresponde ao à divisão do objeto da lógica. Estuda as três operações da inteligência: o conceito, o juízo e o raciocínio.
Conceito é uma mera representação mental do objeto. Juízo é um ato metal de afirmação ou de negação de uma idéia a respeito de outra, isto é, da coexistência de um sujeito e um predicado. Raciocínio é a articulação de vários juízos. O objeto próprio da lógica não é o conceito nem o juízo, mas o raciocínio, que permite a progressão do pensamento. Em outras palavras não há pensamento estruturado quando se consideram idéias isoladas.
Em Perí hermenéias (Da interpretação), um dos tratados do Órganon, Aristóteles estuda a proposição, que é a expressão verbal do juízo. O juízo é verdadeiro quando une na proposição o que está unido na realidade, ou separa, na proposição, o que realmente está separado. A verdade é, assim, a adequação ou a correspondência entre o juízo e a realidade. Esse tratado procura principalmente determinar as oposições possíveis entre proposições.
Lógica na Idade Média
Traduzidos para o latim por Boécio, alguns tratados da obra de Aristóteles passaram a ser usados, na Idade Média, no ensino da lógica, incluída nas disciplinas dos cursos de direito e teologia. A esterelidade criativa que predominou durante cerca de cinco séculos só foi interrompida no século XII com a dialética de Abelardo, teólogo iminente e controvertido, autor de Sci et non (Sim e Não).
Lógica no Renascimento
A tradição da lógica medieval sobreviveu por mais de três séculos após ter atingido a maturidade no século XIV. Entretanto o clima intelectual que se estabeleceu no Ocidente com o advento do Renascimento e do humanismo não estimulava o estudo da lógica. O crescimento das ciências naturais também contribuiu para o abandono da lógica que, como disciplina dedutiva, cedeu lugar às pesquisas metodológicas.
Uma nova atitude em relação à lógica surgiu no século XVI com Petrus Ramus (Pierre de La Ramée), lógico antiaristotélico e reformador educacional, descreveu a lógica como sendo a “arte de discutir” e distingui-a da gramática e da retórica que, ao seu ver, concentrava-se nas questões relativas ao estilo. De acordo com Ramus a lógica deveria tratar de conceitos, juízos, inferências e provas, nessa ordem de prioridade. Entre as inferências, incluía os silogismos categóricos e hipotéticos.
Lógica Moderna
Com Leibniz, no século XVII teve inicio a lógica moderna, que desenvolveu em cooperação com a matemática. Leibniz influenciou seus contemporâneos e sucessores com um ambicioso plano para a lógica, que para ele deixava de ser “uma diversão para acadêmicos” e começava a tomar a forma de uma “matemática universal”. Seu plano propunha uma linguagem universal baseado num alfabeto do pensamento (ou characteristica universallis), um cálculo geral do raciocínio e uma metodologia geral.
Lógica Matemática
Por influencia do pensamento de Aristóteles, lógica dizia respeito, tradicionalmente, apenas à proposições da linguagem verbal. A partir do século XIX, no entanto, seus princípios foram aplicados à linguagem simbólica da matemática.
Lógica matemática é pó conjunto de estudos que visam a expressar em signos matemáticos as estruturas e operações do pensamento, deduzindo-as de um pequeno numero de axiomas, como o propósito de criar uma linguagem rigorosa, adequada ao pensamento cientifico, da qual estejam afastadas as ambigüidades próprias da linguagem comum, ou seja modelos, para cuja definição se enunciam certos axiomas (conceitos básicos) e métodos de dedução e demonstração.
Lógica na Apologia
Apologia segundo o dicionário Aurélio vem a ser um “Discurso de Defesa ou louvor”. A palavra responder vem do grego “apologia”, de onde obtemos o termo apologética, significando uma defesa ou a justificação do que acreditamos.
Em outras palavras, Apologia é a arte e a ciência de defender a fé cristã. Nos tempos dos gregos, quando alguém era acusado de alguma infração, o acusado tinha a oportunidade de prestar sua “apologia”. Para os cristãos, isso poderia significar responder à pergunta: “Por que vocês acreditam em Jesus, o Nazareno, é Deus mesmo” ou mais provável neste dias: “Por que os cristãos acham que só eles têm a verdade?.
Desta forma, apologia é em primeiro lugar uma defesa. Um segundo aspecto da apologia é desafiar as crenças dos outros que são contrárias à nossa fé. Um terceiro aspecto é apresentar evidências positivas em favor da fé. Em suma, as três áreas da apologia são: uma defesa da fé, uma ofensiva contra as crenças contrárias à fé e uma ofensiva em favor das doutrinas cristãs.
Paulo ressaltou este ministério como “defesa e confirmação do evangelho” (Fil. 1:17). O Apóstolo Pedro como já mencionado, disse que deveríamos estar “sempre preparados para responder com mansidão e temor a qualquer que vos pedir a razão da esperança que há em vós” (I Pedro 3:15).
Segundo Rick Wade:
“A apologia tipicamente é uma resposta a uma pergunta ou desafio. Nos tempos de Paulo ele teve que tentar tirar os obstáculos da cruz de cristo dos pensamentos dos judeus. No segundo século os apologistas cristãos tiveram que defender não só as doutrinas cristãs, mas também os próprios cristãos das acusações do ateísmo e canibalismo. Depois tiveram que defender a fé dos ataques dos desafios do islamismo. Na era da iluminação e por muitas décadas depois defenderam a fé dos ataques do racionalismo e cientificismo. Hoje o desafio maior é defender a afirmação que existe um conhecimento certo da verdade absoluta e que na verdade se encontra na Bíblia.Assim como nossos passados, nós temos que dar respostas racionais e certas pela esperança que temos em Cristo. Nos compete lidar com assuntos contemporâneos por mais que sejam difíceis e incômodos para nós.”
Atualmente urge a defesa da verdade absoluta, pois impera-se na sociedade e nos meios intelectuais chamado relativismo, onde todas as coisas são relativas, a verdade, Deus, a Salvação. Tudo depende das circunstâncias e do que a pessoa têm no coração, todos os caminhos levam à Deus.
De modo que o pensamento cristão com a idéia de verdade absoluta passa a ser tido como dogmatismo, “donos da verdade”, aí a discussão ganha volume e o debate torna-se mais caloroso, e nestas circunstâncias o cristão, além de ter um grande conhecimento da Palavra de Deus, terá ainda que entender um pouco sobre ciência, filosofia, sociologia e outros temas que adentrem no assunto do homem em relação a Deus.
Finalidade
Não é objetivo da Apologia tão somente ganhar discussões no âmbito filosófico, doutrinário ou teológico, antes pretende cumprir o Ide do Senhor Jesus, qual seja, pregar o Evangelho a todas a criaturas, que no caso em questão será corroborado por um estudo minucioso da Palavra de Deus e das Doutrinas cristãs, para destruir todas as cosmovisões que sejam antagônicas ao cristianismo.
Nas palavras de Charles Colson:
Debater pode ser algumas vezes desagradável, mas pelo menos pressupõe que há verdades dignas de serem defendidas, idéias dignas de se lutar por elas. Em nossa era pós-moderna, todavia, as suas verdades são as suas verdades, as minhas verdades são as minhas, e nenhuma é significativa o suficiente para alguém se apaixonar por ela. E se não há verdade, então não podemos persuadir um ao outro através de argumentos racionais. Tudo o que resta é puro poder.
E este poder poderia certamente ser aquele sugerido por Moody no seu livro “O Poder Secreto”:
“Se quisermos trabalhar... tendo em vista um propósito definido, precisamos ter o poder do alto. Sem esse poder, nossos esforços não passarão de mero e enfadonho trabalho. Com esse poder, nossa labuta se transformará numa tarefa alegre, num serviço agradável.”
“A proclamação do evangelho não pode estar divorciada do Espírito Santo. A menos que Ele dê poder à palavra, infrutíferas serão nossas tentativas em pregá-la. A eloqüência humana – ou a persuasão da linguagem – não passam de mera aparência exterior de um morto, se o Espírito vivo não estiver presente. O profeta pode pregar aos ossos no vale, mas tem de haver o sopro do céu para que tornem a viver.”
Quem deve utilizar a Apologia:
Embora muitos cristãos pensem que a apologética seja de uso estrito aos intelectuais, ela deve ser utilizada por todo cristão verdadeiro. Neste sentido escreveu Charles Colson:
“ A responsabilidade pela apologética não é limitada aos pastores cristãos ou aos intelectuais. Quando desafio pessoas a aprenderem a defesa da fé e”pensar como cristãos” , freqüentemente respondem: “Oh, eu não estou pronto para isso”, ou: “É muito profundo para mim”. Mas Deus criou cada um de nós com uma mente, com a capacidade de estudar, pensar e fazer perguntas. Ninguém é expert em toda as áreas, mas cada um de nós pode dominar os assuntos nos quais tem alguma experiência.”
E Hank Hanegraaf:
“Um número demasiadamente grande de pessoas acredita que a apologética é do domínio exclusivo dos eruditos e teólogos. Não é verdade ! A defesa da fé não é algo opcional; é um treinamento básico par todo crente. ”
Isto posto, vislumbramos a necessidade do uso da apologia para a defesa do evangelho, como pressuposto básico de ganhar almas, pois quem o faz sábio é!
O próximo passo será analisar os argumentos lógicos que dão base ao pensamento cristão.
Valmir Nascimento Milomem Santo