Rosemeire
24-03-11, 11:01 AM
ABUSO SEXUAL - SABER PARA PROTEGER
Carlos Grzybowski
O abuso sexual é uma das formas de violência doméstica mais difíceis de se combater, devido ao tabu e ao estigma que acompanham este assunto. Seus efeitos na vida da vítima são devastadores. Entretanto, a recomposição da criança ou do adolescente que sofreu abuso sexual é possível. A informação sobre o assunto nos mobilizará para ações preventivas e de proteção aos nossos menores. A primeira vez que me deparei com uma situação de abuso sexual foi quando trabalhava no Recanto da Paz, uma instituição cristã de ajuda a mulheres marginalizadas. O pastor Angus, diretor da instituição, chamou-me em seu escritório e informou-me que havia recebido um telefonema da Delegacia da Mulher, que solicitava sua presença para tratar de uma delicada questão desse tipo.
O caso era de um pai que mantinha relações sexuais com suas duas filhas, uma de 15 e outra de 13 anos na época, e as intimidava sob ameaças. A mãe das meninas tinha conhecimento do caso, mas temia a violência do marido caso ela o denunciasse. Ele era, na realidade, um homem desequilibrado e violento. A situação só havia sido revelada porque uma das filhas havia participado de um retiro espiritual dirigido por uma médica cristã que, falando sobre sexualidade, proporcionou um ambiente de confiança para a menina mais velha expor suas angústias. Toda a família freqüentava regularmente uma igreja evangélica.
Lembro que nossa reação, minha e do pastor Angus, num primeiro momento, foi de uma tremenda revolta contra o pai das meninas. As palavras de Angus ainda ecoam em minha mente: “Esse pai precisa de um tratamento de borrachoterapia”, insinuando que uma boa surra poderia fazer com que o homem refletisse melhor. Todavia, quando chegamos à delegacia e olhamos para aquele homem, que a imprensa chamara de “monstro”, vimos um ser doente e acuado em um canto da cela. As filhas, pobres vítimas, estavam com medo até da própria sombra e a mãe, desesperada, completamente fora de si, só queria ir para casa. Era uma situação caótica, em que somente com muita graça e misericórdia foi possível trabalhar, a fim de que as feridas não aumentassem ainda mais.
Depois disso, tive contato com vários casos similares. Assim, gostaria de oferecer algumas orientações para conselheiros e pessoas em geral que se defrontam com situações desse tipo.
Em primeiro lugar alguns alertas, em nível preventivo, se fazem importantes.
VOCÊ DEVE SABER QUE:
1) todo menor, seja do sexo masculino seja do sexo feminino, pode ser abusado sexualmente;
2) os abusadores sexuais quase sempre foram abusados quando crianças;
3) pesquisas mostram que 30% das crianças em geral são abusadas sexualmente;
4) grande número de pessoas considera normal o contato sexual entre adultos e crianças;
5) qualquer contato sexual — não somente o coito — entre um adulto e um menor é abuso sexual. (mesmo que não haja violência, como no caso de carícias sexuais, temos de proteger os menores do abusador);
6) o abusador pode ser alguém da família ou alguém achegado a ela.
TAMBÉM É IMPORTANTE QUE TODA A CRIANÇA SAIBA QUE:
1) tem direito a uma família e a crescer sob a proteção de seus pais;
2) tem o direito de controlar o que ocorre com seu corpo e não permitir que ninguém toque suas partes íntimas, a não ser em situações específicas e com o acompanhamento dos pais, como no caso de um exame médico;
3) tem o direito de dizer não ao abusador, de correr, de gritar e avisar um adulto de confiança;
4) não deve guardar segredo, mesmo que o abusador seja seu pai, sua mãe, um parente ou “amigo” próximo;
5) nunca é culpada, nem responsável pelo abuso sexual cometido contra ela.
Para os educadores ou pessoas que têm contato direto e contínuo com crianças, existem alguns sinais de conduta indicadores de que um menor foi ou está sendo vítima de abuso sexual.
POR ISSO, ESTEJA ATENTO QUANDO:
1) o menor comunica direta ou indiretamente a atividade sexual;
2) o menor adota um comportamento de falsa maturidade, como vestir-se como adulto, usar maquiagens, usar roupas insinuantes;
3) o menor demonstra um conhecimento sexual avançado para sua idade;
4) o menor apresenta uma depressão crônica ou sentimentos suicidas;
5) o menor passa a não assistir regularmente às aulas na escola;
6) nota-se uma queda geral no aproveitamento escolar ou uma incapacidade de concentração na escola;
7) observam-se condutas excessivamente sedutoras ou jogos sexuais persistentes e inapropriados para a idade do menor;
8) verifica-se uma agressividade ou docilidade excessivas;
9) o menor apresenta manchas de sangue nas roupas íntimas, manchas roxas na região glútea ou nos genitais;
10) o menor apresenta dificuldades de caminhar;
11) detecta-se a presença de doenças venéreas.
Se você se propõe a acompanhar psicológica ou pastoralmente uma vítima de abuso sexual, você deve, em primeiro lugar, estabelecer um vínculo de confiança com a pessoa. Deve também ter cuidado com toques físicos nos primeiros encontros. É preciso mostrar-se disponível para a vítima, mas é bom aguardar suas próprias iniciativas.
Trate do assunto com respeito e atenção e com toda a delicadeza possível, lembrando sempre que você está tocando em uma ferida aberta e muito sensível. Trabalhe com a auto-estima do menor. Geralmente, depois de ter sido abusado, ele se sente como um objeto, e não como uma pessoa.
Finalmente, fale das questões sexuais com naturalidade, demonstrando toda a beleza que há nessa parte da criação de Deus. Leve o menor a refletir que o que ocorreu com ele foi uma tragédia, e não o padrão normal e belo estabelecido por Deus para o uso da sexualidade. Fale também que o fato de ele ter sido vítima de abuso sexual não o torna “sujo”, impuro ou pecador, mas que ele tem um valor inestimável como criatura de Deus.
O que jamais podemos deixar de fazer é atender às vítimas de abuso sexual com compaixão e denunciar as estruturas sociais perversas que possibilitam e encobrem tais situações. Que Deus nos dê ousadia profética e ternura sacerdotal para servir às nossas crianças e aos nossos adolescentes em risco!
Carlos “Catito” Grzybowski, psicólogo e terapeuta familiar, é secretário executivo do CPPC e coordenador da Eirene do Brasil
Carlos Grzybowski
O abuso sexual é uma das formas de violência doméstica mais difíceis de se combater, devido ao tabu e ao estigma que acompanham este assunto. Seus efeitos na vida da vítima são devastadores. Entretanto, a recomposição da criança ou do adolescente que sofreu abuso sexual é possível. A informação sobre o assunto nos mobilizará para ações preventivas e de proteção aos nossos menores. A primeira vez que me deparei com uma situação de abuso sexual foi quando trabalhava no Recanto da Paz, uma instituição cristã de ajuda a mulheres marginalizadas. O pastor Angus, diretor da instituição, chamou-me em seu escritório e informou-me que havia recebido um telefonema da Delegacia da Mulher, que solicitava sua presença para tratar de uma delicada questão desse tipo.
O caso era de um pai que mantinha relações sexuais com suas duas filhas, uma de 15 e outra de 13 anos na época, e as intimidava sob ameaças. A mãe das meninas tinha conhecimento do caso, mas temia a violência do marido caso ela o denunciasse. Ele era, na realidade, um homem desequilibrado e violento. A situação só havia sido revelada porque uma das filhas havia participado de um retiro espiritual dirigido por uma médica cristã que, falando sobre sexualidade, proporcionou um ambiente de confiança para a menina mais velha expor suas angústias. Toda a família freqüentava regularmente uma igreja evangélica.
Lembro que nossa reação, minha e do pastor Angus, num primeiro momento, foi de uma tremenda revolta contra o pai das meninas. As palavras de Angus ainda ecoam em minha mente: “Esse pai precisa de um tratamento de borrachoterapia”, insinuando que uma boa surra poderia fazer com que o homem refletisse melhor. Todavia, quando chegamos à delegacia e olhamos para aquele homem, que a imprensa chamara de “monstro”, vimos um ser doente e acuado em um canto da cela. As filhas, pobres vítimas, estavam com medo até da própria sombra e a mãe, desesperada, completamente fora de si, só queria ir para casa. Era uma situação caótica, em que somente com muita graça e misericórdia foi possível trabalhar, a fim de que as feridas não aumentassem ainda mais.
Depois disso, tive contato com vários casos similares. Assim, gostaria de oferecer algumas orientações para conselheiros e pessoas em geral que se defrontam com situações desse tipo.
Em primeiro lugar alguns alertas, em nível preventivo, se fazem importantes.
VOCÊ DEVE SABER QUE:
1) todo menor, seja do sexo masculino seja do sexo feminino, pode ser abusado sexualmente;
2) os abusadores sexuais quase sempre foram abusados quando crianças;
3) pesquisas mostram que 30% das crianças em geral são abusadas sexualmente;
4) grande número de pessoas considera normal o contato sexual entre adultos e crianças;
5) qualquer contato sexual — não somente o coito — entre um adulto e um menor é abuso sexual. (mesmo que não haja violência, como no caso de carícias sexuais, temos de proteger os menores do abusador);
6) o abusador pode ser alguém da família ou alguém achegado a ela.
TAMBÉM É IMPORTANTE QUE TODA A CRIANÇA SAIBA QUE:
1) tem direito a uma família e a crescer sob a proteção de seus pais;
2) tem o direito de controlar o que ocorre com seu corpo e não permitir que ninguém toque suas partes íntimas, a não ser em situações específicas e com o acompanhamento dos pais, como no caso de um exame médico;
3) tem o direito de dizer não ao abusador, de correr, de gritar e avisar um adulto de confiança;
4) não deve guardar segredo, mesmo que o abusador seja seu pai, sua mãe, um parente ou “amigo” próximo;
5) nunca é culpada, nem responsável pelo abuso sexual cometido contra ela.
Para os educadores ou pessoas que têm contato direto e contínuo com crianças, existem alguns sinais de conduta indicadores de que um menor foi ou está sendo vítima de abuso sexual.
POR ISSO, ESTEJA ATENTO QUANDO:
1) o menor comunica direta ou indiretamente a atividade sexual;
2) o menor adota um comportamento de falsa maturidade, como vestir-se como adulto, usar maquiagens, usar roupas insinuantes;
3) o menor demonstra um conhecimento sexual avançado para sua idade;
4) o menor apresenta uma depressão crônica ou sentimentos suicidas;
5) o menor passa a não assistir regularmente às aulas na escola;
6) nota-se uma queda geral no aproveitamento escolar ou uma incapacidade de concentração na escola;
7) observam-se condutas excessivamente sedutoras ou jogos sexuais persistentes e inapropriados para a idade do menor;
8) verifica-se uma agressividade ou docilidade excessivas;
9) o menor apresenta manchas de sangue nas roupas íntimas, manchas roxas na região glútea ou nos genitais;
10) o menor apresenta dificuldades de caminhar;
11) detecta-se a presença de doenças venéreas.
Se você se propõe a acompanhar psicológica ou pastoralmente uma vítima de abuso sexual, você deve, em primeiro lugar, estabelecer um vínculo de confiança com a pessoa. Deve também ter cuidado com toques físicos nos primeiros encontros. É preciso mostrar-se disponível para a vítima, mas é bom aguardar suas próprias iniciativas.
Trate do assunto com respeito e atenção e com toda a delicadeza possível, lembrando sempre que você está tocando em uma ferida aberta e muito sensível. Trabalhe com a auto-estima do menor. Geralmente, depois de ter sido abusado, ele se sente como um objeto, e não como uma pessoa.
Finalmente, fale das questões sexuais com naturalidade, demonstrando toda a beleza que há nessa parte da criação de Deus. Leve o menor a refletir que o que ocorreu com ele foi uma tragédia, e não o padrão normal e belo estabelecido por Deus para o uso da sexualidade. Fale também que o fato de ele ter sido vítima de abuso sexual não o torna “sujo”, impuro ou pecador, mas que ele tem um valor inestimável como criatura de Deus.
O que jamais podemos deixar de fazer é atender às vítimas de abuso sexual com compaixão e denunciar as estruturas sociais perversas que possibilitam e encobrem tais situações. Que Deus nos dê ousadia profética e ternura sacerdotal para servir às nossas crianças e aos nossos adolescentes em risco!
Carlos “Catito” Grzybowski, psicólogo e terapeuta familiar, é secretário executivo do CPPC e coordenador da Eirene do Brasil